Romance e mistério: o filme de Woody Allen que você nunca ouviu falar, no Prime Video Divulgação / Gravier Productions

Romance e mistério: o filme de Woody Allen que você nunca ouviu falar, no Prime Video

Woody Allen construiu uma filmografia inconfundível, equilibrando ironia, existencialismo e uma visão mordaz sobre os dilemas humanos. “Golpe de Sorte em Paris” continua essa tradição, mas com nuances que o diferenciam de suas produções anteriores. A trama, ambientada em uma Paris outonal capturada com esmero por Vittorio Storaro, flutua entre romance e suspense, evidenciando que, mesmo após décadas de carreira, Allen mantém sua destreza narrativa. Ainda que não alcance o brilho de seus clássicos, o longa confirma a habilidade do diretor em transformar situações corriqueiras em intrincados jogos morais e emocionais.

A história acompanha Fanny (Lou de Laâge), uma mulher que aparentemente desfruta de uma vida perfeita ao lado do bem-sucedido Jean (Melvil Poupaud). No entanto, um encontro fortuito com Alain (Niels Schneider), um antigo colega de escola, desperta nela um desejo adormecido, levando-a a um caso extraconjugal. À medida que o romance avança, o filme transita do drama romântico para um thriller psicológico, onde segredos e manipulações ganham protagonismo. A presença de Camille (Valérie Lemercier), mãe de Fanny, adiciona um elemento investigativo à narrativa, elevando a tensão gradualmente. Como em outras histórias do cineasta, o acaso desempenha um papel central, determinando rumos inesperados e expondo as fragilidades humanas diante de escolhas morais ambíguas.

Diferente de suas produções passadas, que frequentemente contavam com elencos estelares capazes de transformar diálogos triviais em momentos brilhantes, “Golpe de Sorte em Paris” aposta em atuações contidas. O elenco entrega performances competentes, mas sem o magnetismo que tantas vezes elevou os filmes do diretor a outro patamar. Allen mantém um controle rigoroso da narrativa, mas há um certo deja vu estrutural, remetendo diretamente a “Match Point”. Contudo, em vez de uma nova exploração da temática, o filme parece revisitar ideias já esgotadas dentro da própria filmografia do diretor.

Se há um elemento que distingue “Golpe de Sorte em Paris”, é a estética visual. Storaro, mestre da cinematografia, constrói um universo visualmente sofisticado, em que a luz e a sombra dialogam para acentuar a dualidade moral da trama. A Paris capturada por suas lentes é ao mesmo tempo idílica e enigmática, reforçando a sensação de que o destino pode ser tão belo quanto implacável. Os diálogos, ágeis e bem elaborados, mantêm o espectador envolvido, ainda que o desenvolvimento da história, em certos momentos, careça de surpresas mais contundentes.

Para os admiradores de Allen, “Golpe de Sorte em Paris” oferece uma experiência familiar e refinada, embora previsível em diversos aspectos. O humor sarcástico, sempre presente em sua obra, aqui aparece diluído, enquanto a combinação de romance, crime e dilemas éticos reafirma sua capacidade de navegar entre gêneros sem perder a identidade artística. No entanto, a previsibilidade do desenlace reduz parte do impacto emocional que o filme poderia alcançar. Allen entrega uma narrativa elegante e bem construída, reafirmando sua assinatura estilística, mas sem expandir significativamente os horizontes temáticos que marcaram sua carreira. “Golpe de Sorte em Paris” é um filme competente, mas sem a centelha de genialidade que caracterizou seus melhores momentos.

Filme: Golpe de Sorte em Paris
Diretor: Woody Allan
Ano: 2023
Gênero: Comédia/Crime/Drama/Romance/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★