Sequência de melhor franquia de suspense dos últimos 25 anos está na Netflix Jonny Cournoyer / Paramount

Sequência de melhor franquia de suspense dos últimos 25 anos está na Netflix

Ao expandir o universo angustiante estabelecido no primeiro filme, “Um Lugar Silencioso — Parte 2” mantém a essência de sua predecessora, ao mesmo tempo em que amplia sua narrativa e introduz novas dinâmicas de tensão e sobrevivência. O diretor John Krasinski, além de assinar o roteiro e fazer uma breve aparição, entrega um prólogo eletrizante que não apenas responde a questionamentos sobre a chegada das criaturas, mas também reintroduz sua própria personagem de maneira orgânica. Esse início intenso estabelece um tom de urgência, firmando um dos grandes méritos do longa: a construção meticulosa do suspense, onde cada ruído representa uma ameaça iminente.

A história se desenrola imediatamente após os eventos do primeiro filme, com Evelyn Abbott, agora viúva, guiando seus filhos e o bebê recém-nascido em busca de refúgio. A apresentação de Emmett, interpretado por Cillian Murphy, adiciona uma nova camada dramática, já que ele encarna um sobrevivente endurecido pela tragédia, cujo ceticismo contrasta com a determinação de Regan, a filha surda dos Abbott. Interpretada com maestria por Millicent Simmonds, Regan assume um protagonismo inesperado, impulsionada pela convicção de que seu aparelho auditivo pode ser a chave para derrotar as criaturas. Sua jornada solo traz ao filme um senso de propósito, evitando que a trama se limite a uma simples repetição do primeiro longa.

Apesar de sua excelência técnica e do uso magistral do som para amplificar a tensão, “Um Lugar Silencioso — Parte 2” não escapa de algumas fragilidades narrativas. Diferente do primeiro filme, onde a novidade e a originalidade sustentavam a tensão de forma orgânica, a sequência se apoia em convenções previsíveis, o que dilui parte do impacto emocional. A previsibilidade de algumas situações enfraquece a experiência, tornando certas decisões dos personagens questionáveis e parecendo, em alguns momentos, um artifício forçado para impulsionar a história. Além disso, a lógica por trás das ações humanas diante da ameaça alienígena ainda levanta questionamentos. Se o ponto fraco das criaturas é o som, por que ninguém explora estratégias mais eficientes, como transmissões contínuas de ruídos ou armadilhas acústicas? Essas lacunas fazem com que a ameaça, por mais aterrorizante que seja, pareça menos insuperável do que o filme sugere.

No entanto, a qualidade da cinematografia e das atuações garantem que “Um Lugar Silencioso  — Parte 2” se mantenha envolvente. A fotografia de Polly Morgan captura com precisão a atmosfera de um mundo devastado, reforçando a sensação de isolamento e perigo constante. A atuação de Emily Blunt continua impactante, mas é Simmonds quem realmente carrega a narrativa, conferindo profundidade e carisma à sua personagem. Noah Jupe também se destaca como Marcus, especialmente em momentos de extremo pavor e vulnerabilidade.

Ao expandir sua ambientação e apresentar novos desafios para os sobreviventes, o longa evita a armadilha de ser apenas uma cópia ampliada do original. Krasinski compreende que a força da história está na jornada emocional dos personagens e no impacto psicológico da ameaça invisível. Ainda assim, para um possível terceiro capítulo, há espaço para aprimoramentos, especialmente no desenvolvimento da lógica do universo e na inovação da trama. “Um Lugar Silencioso — Parte 2” é um exemplo sólido de como uma sequência pode respeitar sua origem sem se limitar a ela, entregando um thriller tenso, bem executado e que mantém o público imerso em sua narrativa de perigo constante.

Filme: Um Lugar Silencioso: Parte 2
Diretor: John Krasinski
Ano: 2020
Gênero: Drama/Ficção Científica/horror
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★