Baseado em livro que alcançou a primeira posição em best-sellers do New York Times, comédia com Jennifer Aniston está na Netflix Bob Mahoney / Netflix

Baseado em livro que alcançou a primeira posição em best-sellers do New York Times, comédia com Jennifer Aniston está na Netflix

“Dumplin’” se sobressai ao evitar a superficialidade emocional e ao oferecer um retrato genuíno da busca por identidade. Adaptado do romance de Julie Murphy, o filme escapa das armadilhas de um drama juvenil convencional ao equilibrar humor e sensibilidade com notável fluidez. O resultado é uma história que, embora transite por territórios familiares, imprime autenticidade suficiente para se destacar entre tantas outras produções do gênero.

A trama acompanha Willowdean Dickson, interpretada por Danielle Macdonald, uma jovem que cresceu sob a sombra da mãe, Rosie (Jennifer Aniston), uma ex-miss que ainda se apega às glórias passadas dos concursos de beleza. O relacionamento entre as duas é marcado por uma tensão silenciosa: embora Rosie ame a filha, sua rigidez e incapacidade de demonstrar carinho sem embutir julgamentos criam uma barreira invisível entre ambas. Essa relação torna-se ainda mais complexa com a ausência de Lucy, tia de Willowdean e figura materna alternativa, cujo apoio irrestrito funcionava como contrapeso ao rigor de Rosie. A morte de Lucy, mais do que um evento traumático, atua como catalisador de uma jornada interna na protagonista, que precisa redefinir sua percepção sobre si mesma e sobre o mundo ao seu redor.

O motor da narrativa é a decisão de Willowdean de se inscrever no concurso de beleza organizado por sua mãe, um ato que, à primeira vista, poderia ser visto como um desafio direto às convenções impostas por Rosie, mas que se revela algo muito mais profundo. O filme evita armadilhas bobinhas ao não apresentar antagonistas ou competições recheadas de crueldade gratuita. O verdadeiro embate ocorre dentro da protagonista, que precisa enfrentar sua própria resistência em aceitar que não precisa de permissão externa para se sentir digna.

Diferentemente de outras histórias que apostam na transformação física como solução para problemas internos, “Dumplin’” se estrutura sobre a ideia de que a verdadeira mudança acontece na forma como nos enxergamos. O filme não trata de desafiar padrões apenas por rebeldia, mas sim de questionar a relação entre autoimagem e autoaceitação. Ao longo da narrativa, Willowdean descobre que sua segurança não pode estar ancorada na aprovação de terceiros, um conceito que é reforçado não apenas por seu próprio crescimento, mas também pelo impacto que exerce em outros personagens ao seu redor.

O elenco de apoio foge dos arquétipos usuais. Meek Millie (Maddie Baillio) e Hannah (Bex Taylor-Klaus) não são meros complementos da trama, mas indivíduos com trajetórias próprias, enriquecendo o contexto sem cair no estereótipo de coadjuvantes unidimensionais. A dinâmica entre Willowdean e Bo (Luke Benward), seu interesse romântico, também subverte expectativas: em vez de servir como simples agente de validação, ele atua como um espelho para suas próprias inseguranças, permitindo que a protagonista confronte aquilo que tenta evitar.

A direção de Anne Fletcher opta por uma abordagem sutil, permitindo que os momentos de emoção emerjam organicamente, sem recorrer a excessos melodramáticos. Jennifer Aniston interpreta de maneira equilibrada como Rosie, evitando transformar a personagem em uma antagonista estereotipada. A complexidade dessa mãe, que oscila entre o desejo de proteger a filha e a incapacidade de compreendê-la, adiciona camadas à narrativa, tornando-a mais próxima da realidade. O destaque também vai para Harold Perrineau, que traz carisma e vitalidade ao papel de mentor improvável da protagonista.

“Dumplin’” apresenta sua mensagem sem recorrer a discursos didáticos ou soluções simplistas. O filme não promete transformações instantâneas, mas sugere que o caminho para a confiança e a autoaceitação é construído a partir de pequenos atos de coragem. A grande vitória de Willowdean não está em conquistar um título, mas em compreender que sua identidade nunca dependeu da chancela alheia. Essa abordagem honesta e sem artifícios é o que torna “Dumplin’” uma experiência autêntica e memorável.

Filme: Dumplin’
Diretor: Anne Fletcher
Ano: 2018
Gênero: Comédia/Drama
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★