Na lista dos 25 filmes mais avaliados do IMDb, ganhador de 5 Oscars de Steven Spielberg é épico imortal do cinema, na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Na lista dos 25 filmes mais avaliados do IMDb, ganhador de 5 Oscars de Steven Spielberg é épico imortal do cinema, na Netflix

Entre os inúmeros retratos da Segunda Guerra Mundial no cinema, poucos atingem a intensidade visceral e a profundidade psicológica de “O Resgate do Soldado Ryan”. O filme de Steven Spielberg transcende a mera reconstrução histórica para oferecer uma imersão brutal e inescapável nos horrores do conflito. Sua narrativa, aparentemente simples — uma equipe de soldados enviada para resgatar um único combatente —, torna-se um pretexto para uma investigação mais ampla sobre dever, moralidade e os laços humanos forjados em meio à barbárie.

Diferente de muitos filmes de guerra que reduzem o embate a uma dicotomia entre heróis e vilões, o roteiro de Robert Rodat constrói um dilema existencial que permeia toda a trama: vale a pena sacrificar diversas vidas por uma? A cada passo da missão, essa questão ressoa entre os personagens, ganhando camadas de complexidade. O Capitão Miller (Tom Hanks), figura de liderança pragmática, carrega um senso de dever que se choca constantemente com os horrores que presencia. Sua conduta não é guiada por heroísmo ingênuo, mas por uma esperança quase desesperada de que cumprir sua missão possa, de alguma forma, restaurar um fragmento de normalidade em meio ao caos.

Ao seu redor, soldados como o cético Reiben (Edward Burns), o idealista Jackson (Barry Pepper) e o inexperiente Upham (Jeremy Davies) personificam diferentes perspectivas sobre o conflito. A evolução desses personagens é um dos trunfos do filme, pois evidencia como a guerra corrói convicções e transforma aqueles que a vivenciam. Upham, em particular, emerge como um reflexo do impacto psicológico do combate: de um jovem ingênuo a um homem marcado pela brutalidade, sua trajetória simboliza a dissolução da inocência em meio à carnificina.

O realismo do longa se manifesta com mais força na lendária cena de abertura, que retrata o desembarque na Normandia com uma crueza nunca antes vista no gênero. Spielberg elimina qualquer traço de glamour, submetendo o espectador a uma experiência sensorial sufocante: tiros cortam a tela de forma imprevisível, corpos caem sem aviso, e a câmera trêmula coloca a audiência dentro do campo de batalha. Esse compromisso com a autenticidade histórica não se restringe às grandes batalhas; ele permeia cada cena, desde as interações entre os soldados até as decisões estratégicas que frequentemente os levam a becos sem saída.

O impacto do filme, no entanto, não está apenas na sua representação impiedosa do combate, mas na forma como humaniza aqueles que o enfrentam. Spielberg evita transformar seus personagens em ícones inatingíveis; são homens comuns, com fragilidades e temores, tentando sobreviver a um cenário que os despoja de qualquer certeza. Miller, por exemplo, não é um comandante infalível, mas um professor convertido em soldado, lutando para manter sua identidade intacta em meio ao caos. Sua incerteza e cansaço dão ao filme um peso emocional que o distingue de tantas outras narrativas de guerra.

O impacto de “O Resgate do Soldado Ryan” ultrapassa o realismo brutal de suas sequências de combate. Seu legado está na forma como obriga o espectador a encarar a guerra não como um evento glorioso, mas como um cenário onde a moralidade é testada a cada instante e a humanidade se equilibra sobre um fio tão frágil quanto a vida de cada soldado. Spielberg constrói um relato que transcende o gênro, deixando uma reflexão incômoda e persistente sobre o peso das escolhas feitas em tempos de conflito. Não se trata apenas de salvar Ryan, mas de questionar o verdadeiro custo da guerra — não apenas para aqueles que lutam, mas para todos os que carregam suas marcas para sempre.

Filme: O Resgate do Soldado Ryan
Diretor: Steven Spielberg
Ano: 1998
Gênero: Drama/Épico/Guerra
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★