“Guerra Civil”, de Alex Garland, projeta um futuro sombrio para os Estados Unidos, um país devastado por uma guerra civil em um cenário que, embora fictício, ressoa com uma inquietante plausibilidade. Sem recorrer a explicações expositivas sobre o colapso da sociedade, a narrativa mergulha diretamente no caos, onde fronteiras ideológicas se dissipam e nenhuma facção se apresenta como heroica. A decisão de evitar uma leitura binária do conflito impede que a trama seja reduzida a uma disputa partidária e, em vez disso, expõe a brutalidade irracional que surge quando a ordem se desfaz.
O desconforto gerado pelo filme não vem apenas da intensidade das cenas de combate, mas da corrosão moral que acompanha a guerra. Em meio à ruína institucional, não apenas soldados se tornam agentes da destruição; civis são alvejados sem distinção, e os limites entre culpa e inocência se desfazem. A fotografia amplifica essa sensação opressiva, transformando cada disparo em um impacto visceral. Durante as exibições em IMAX, o efeito foi ainda mais avassalador, com explosões e tiros que eliminam qualquer distanciamento seguro entre espectador e tragédia.
No centro da história, um grupo de fotojornalistas atravessa um território destroçado para documentar a guerra e entrevistar o presidente. Contudo, eles não desempenham o papel de protagonistas tradicionais; são testemunhas impotentes diante de um cenário onde a violência se manifesta de forma imprevisível. Essa abordagem enfatiza um ponto essencial: uma guerra civil não se encaixa em narrativas simplistas de bem contra o mal, mas se desenrola como um organismo caótico, indiferente a julgamentos maniqueístas.
Mais do que um exercício de ficção distópica, o filme opera como um espelho incômodo das tensões que se agravam no mundo real. Ao evitar soluções fáceis ou conclusões redentoras, ele reforça a noção de que o verdadeiro risco não está no conflito em si, mas nas escolhas que o precedem. Em um país onde a cultura armamentista se entrelaça a discursos inflamados e ao desdém pelo dissenso, o colapso interno pode não ser iminente, mas tampouco parece impensável. O filme não prediz um destino inevitável, mas alerta para os sinais de alerta que se acumulam no horizonte.
Independentemente das disputas políticas e de quem ocupa o poder, a mensagem subjacente é inegável: a erosão dos princípios democráticos abre caminho para o abismo. O horror retratado na tela não se apresenta como um destino inexorável, mas como um lembrete das consequências da intolerância e do enfraquecimento das instituições. Para aqueles que ainda veem o confronto como um atalho para a resolução de impasses, esta obra transcende a experiência cinematográfica e se impõe como um chamado urgente à reflexão.
★★★★★★★★★★