Filme que transcende a vida: obra de arte vencedora do Oscar está na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Filme que transcende a vida: obra de arte vencedora do Oscar está na Netflix

A vida de Stephen Hawking ultrapassa as fronteiras da genialidade científica, transformando-se em um relato de resistência e reinvenção. “A Teoria de Tudo”, dirigido por James Marsh, supera a mera biografia convencional e mergulha em uma exploração sensível das complexas dinâmicas que moldaram sua existência. Em vez de se ater exclusivamente às equações e teorias que revolucionaram a cosmologia, o filme se ancora na relação de Hawking com Jane Wilde, destacando um amor que, longe de ser idealizado, é permeado por desafios, transformações e escolhas dolorosas.

O roteiro de Anthony McCarten, baseado na obra “Viajando para o Infinito: Minha Vida com Stephen”, de Jane Hawking, estrutura-se a partir de um questionamento fundamental: até que ponto é possível sustentar um compromisso diante da deterioração imposta por uma doença progressiva? Ao explorar essa interseção entre vulnerabilidade e determinação, a narrativa expõe não apenas o peso do fardo assumido por Jane, mas também as tensões silenciosas que permeiam a relação ao longo dos anos. O filme evita respostas bobas e melodramas, optando por uma abordagem que respeita as nuances emocionais e a complexidade de suas personagens.

A performance de Eddie Redmayne é incrível, cuja transformação física e emocional captura com precisão a progressão da Esclerose Lateral Amiotrófica. Mais do que reproduzir gestos e posturas, Redmayne consegue traduzir, com um minimalismo impressionante, o universo interno de Hawking, onde a mente se recusa a ceder às limitações do corpo. Seu olhar, suas pausas e a sutil modulação vocal conferem à interpretação uma autenticidade rara. Ao seu lado, Felicity Jones entrega uma Jane Wilde multifacetada: uma mulher resiliente, mas não imune ao desgaste; apaixonada, mas consciente de seus limites. Sua atuação escapa à armadilha da idealização, construindo uma personagem que se revela tão essencial para a narrativa quanto o próprio Hawking.

A direção de James Marsh imprime um lirismo singular ao filme, explorando a fotografia etérea de Benoît Delhomme para contrastar momentos de plenitude com a progressiva reclusão imposta pela doença. Oxford, inicialmente retratada com luz suave e tons quentes, aos poucos cede espaço para ambientes mais fechados e sombras que refletem a mudança na dinâmica do casal. A trilha sonora de Jóhann Jóhannsson costura essa evolução com uma sonoridade que oscila entre a esperança e a melancolia, intensificando o impacto emocional da narrativa.

Um dos aspectos mais especiais do filme é sua recusa em santificar Hawking. Ele não é apresentado como um gênio intocável, mas como um homem que erra, se reinventa e toma decisões que impactam aqueles ao seu redor. Da mesma forma, Jane Wilde não é reduzida ao arquétipo da esposa altruísta, mas sim retratada como uma mulher cujas próprias ambições e desejos entram em conflito com o amor e a responsabilidade. O filme respeita a complexidade de ambos, abordando sem julgamentos o inevitável distanciamento e as consequências de suas escolhas.

Embora parte da crítica tenha apontado que o romance se sobrepõe à ciência, essa é uma opção narrativa que enriquece a experiência, humanizando a figura de Hawking e tornando sua história acessível a um público mais amplo. “A Teoria de Tudo” não é sobre física teórica, mas sim um testemunho sobre resiliência, adaptação e os custos invisíveis das relações humanas. Em meio à fragilidade do corpo e à força da mente, a trajetória de Hawking nos lembra que, independentemente das adversidades, sempre há espaço para seguir em frente. Como ele mesmo disse: “Enquanto houver vida, haverá esperança”.

Filme: A Teoria de Tudo
Diretor: James Marsh
Ano: 2014
Gênero: Biografia/Drama/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★