Deixe as preocupações de lado — comédia para quem ama “Meninas Malvadas” está no Prime Video Divulgação / BCDF Pictures

Deixe as preocupações de lado — comédia para quem ama “Meninas Malvadas” está no Prime Video

Filmes que abordam a dinâmica social dentro do ambiente escolar costumam seguir um padrão previsível: um grupo de excluídos se rebela contra a hierarquia imposta pelos populares, questionando as regras do jogo social. “As Excluídas” não se afasta completamente dessa estrutura, mas encontra maneiras de conferir à narrativa uma energia particular, ainda que sem a contundência de produções como “Meninas Malvadas”. O longa acompanha Mindy (Eden Sher) e Jodi (Victoria Justice), amigas inseparáveis que, cansadas de serem relegadas às margens da pirâmide social do colégio, decidem desafiar a hegemonia da arrogante Whitney (Claudia Lee). A premissa sugere um embate direto entre opressores e oprimidos, mas há nuances que impedem que a história se limite a essa dicotomia simplista.

A inserção de referências a “As 48 Leis do Poder”, de Robert Greene, pode parecer um artifício superficial para dar profundidade ao enredo, mas levanta uma questão interessante: até que ponto as regras do jogo político não se aplicam, ainda que de maneira rudimentar, a microambientes como o ensino médio? O roteiro explora essa interseção de forma irregular, mas acerta ao não reduzir a trajetória das protagonistas a um simples duelo entre bons e maus. Se por um lado a intenção inicial de Mindy e Jodi é equilibrar as forças no colégio, por outro, o filme sugere que a busca pelo poder pode corromper até mesmo aqueles que começaram a jornada com as melhores intenções. É nesse ponto que “As Excluídas” se diferencia de tantas outras produções do gênero: em vez de apenas exaltar a vitória dos excluídos, ele levanta um questionamento sutil sobre o que significa, de fato, vencer dentro dessa estrutura.

O elenco é um dos maiores acertos da produção. Eden Sher, conhecida pelo carisma exasperado de “The Middle”, traz à sua personagem uma energia magnética, conduzindo suas cenas com uma entrega que torna fácil a identificação do público. Victoria Justice, por sua vez, constrói Jodi com um equilíbrio interessante entre vulnerabilidade e confiança, garantindo que sua personagem não caia em estereótipos fáceis. Ashley Rickards e Peyton List complementam o grupo com atuações competentes, embora em alguns momentos pareçam menos desenvolvidas do que o potencial permitiria. O principal problema está na disparidade de idade entre os atores e os personagens que interpretam, o que pode comprometer parte da imersão do espectador.

O roteiro, ainda que estruturado de maneira funcional, tropeça em algumas escolhas que enfraquecem a construção narrativa. A ambientação do filme parece indecisa entre diferentes épocas: referências a tecnologias obsoletas contrastam com elementos claramente contemporâneos, criando um efeito de descompasso temporal que interfere na coesão da história. Além disso, o humor e a sagacidade dos diálogos não alcançam a acidez necessária para elevar a produção ao patamar de suas inspirações mais bem-sucedidas, como o texto afiado de Tina Fey em “Meninas Malvadas”. Há lampejos de perspicácia na forma como os diálogos são conduzidos, mas a ausência de uma identidade mais definida impede que o filme atinja um impacto mais duradouro.

Ainda assim, “As Excluídas” possui méritos suficientes para se sustentar como um entretenimento leve e envolvente. Para aqueles que buscam uma comédia juvenil que funcione dentro das expectativas do gênero, o filme entrega exatamente o que se propõe. Mas para um público mais atento às sutilezas das relações de poder, há um valor adicional na forma como o roteiro insinua que a hierarquia social do ensino médio é apenas o primeiro estágio de um jogo muito maior — um jogo cujas regras, frequentemente, permanecem as mesmas na vida adulta.

Filme: As Excluídas
Diretor: Peter Hutchings
Ano: 2017
Gênero: Comédia
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★