Entre colinas ensolaradas e ruelas de paralelepípedos, “La Dolce Villa” se desenrola como um cartão-postal da Itália, mas também como um reflexo de um fenômeno social contemporâneo: o leilão de propriedades rurais abandonadas por valores simbólicos. O cenário, que exala o charme da arquitetura da era eduardiana e a riqueza histórica de um país que se vende como destino idílico, acaba se tornando o verdadeiro protagonista. A trama, embora promissora, não consegue escapar da superficialidade que marca muitas produções recentes da Netflix, parecendo feita para servir como pano de fundo enquanto o espectador cozinha ou realiza outras tarefas. A fotografia, por outro lado, captura com precisão a sedução do interior italiano, oferecendo imagens que poderiam facilmente figurar em campanhas turísticas.
Apesar de um roteiro que se contenta com o básico, há algo na estrutura do filme que ressoa. A dinâmica entre pai e filha se sobressai como um dos pontos mais bem trabalhados, revelando uma trajetória de aprendizado e reconstrução de laços que adiciona um toque genuíno à narrativa. A jornada emocional dos personagens, ainda que previsível, consegue transmitir uma sensação reconfortante, como um abraço familiar. Paralelamente, a história de amor entre Giovanni e Olivia adiciona um elemento de romance tardio que, embora não revolucionário, consegue cativar pelo carisma dos atores e a química convincente entre eles. São esses pequenos detalhes que impedem que o filme se perca completamente na mediocridade.
A maior questão que persiste é a falta de ousadia. A produção parece satisfeita em oferecer uma experiência visual agradável sem se aprofundar na complexidade emocional ou social de sua premissa. O conceito de estrangeiros comprando casas por um euro na Itália carrega implicações interessantes sobre gentrificação, identidade e pertencimento, mas tudo isso é tratado de forma rasa, quase decorativa. O resultado é um filme que, apesar de agradável, soa inacabado, como uma promessa que nunca se cumpre completamente. É uma experiência confortável, como assistir a vídeos de reformas de casas no YouTube, mas sem a intensidade emocional que poderia transformá-lo em algo memorável. “La Dolce Villa” não é uma perda de tempo, mas tampouco uma história que ficará marcada na memória.
★★★★★★★★★★