Um ícone cultural que transcendeu gerações — maior papel da carreira de John Travolta está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Um ícone cultural que transcendeu gerações — maior papel da carreira de John Travolta está na Netflix

Poucos filmes conseguem transcender as décadas e permanecer culturalmente relevantes sem depender da nostalgia como muleta. “Grease — Nos Tempos da Brilhantina” é um desses casos raros. Quando lançado em 1978, sua recepção crítica foi marcada por reservas quanto à suposta atenuação da rebeldia presente no espetáculo original da Broadway. A adaptação trocava a ambientação urbana de Nova York por uma versão ensolarada e idealizada da Califórnia dos anos 1950, onde a juventude parecia viver entre a euforia do rock’n’ roll e os dramas sentimentais com toques de exagero. O que poderia ser um ponto fraco, no entanto, se revelou sua maior força: o filme construiu um universo próprio, hiperbólico e vibrante, onde realidade e fantasia se fundem em um espetáculo de pura energia.

O enredo é simples, mas envolvente. Danny Zuko (John Travolta) e Sandy Olsson (Olivia Newton-John) vivem um romance de verão que parece fadado ao esquecimento. Entretanto, o destino os reúne novamente no ambiente escolar, onde os códigos sociais adolescentes dificultam qualquer reaproximação genuína. Danny, dividido entre a fachada de durão e sua real vulnerabilidade emocional, e Sandy, inicialmente ingênua e deslocada, conduzem uma dinâmica que, apesar de central, não se sustenta sozinha. O filme é impulsionado por um elenco coadjuvante carismático, com destaque para Rizzo (Stockard Channing), cuja presença magnética e personalidade mordaz trazem complexidade ao que poderia ser apenas um conflito juvenil superficial.

Se há um elemento que garantiu a perenidade de “Grease”, este é, sem dúvida, sua trilha sonora. Poucas produções musicais conseguiram condensar uma sequência de canções tão instantaneamente reconhecíveis e perenes quanto “Summer Nights”, “You’re the One That I Want” e “Hopelessly Devoted to You”. Essas faixas não são apenas acompanhamentos para a narrativa; elas são a essência do filme, transbordando emoção e reforçando a atmosfera lúdica da história. O musical, afinal, não tem o compromisso de mimetizar a realidade — seu poder mora justamente na maneira como amplifica sentimentos e traduz emoções por meio da música e da dança. Mesmo espectadores pouco afeitos ao gênero reconhecem o impacto dessas sequências, que transformam episódios cotidianos em espetáculos vibrantes e inesquecíveis.

Além do apelo sonoro, o filme se mantém visualmente vivo por uma estética que acerta ao flertar com a caricatura. Os figurinos, penteados e cenários evocam uma versão estilizada dos anos 1950, reforçando a ideia de que “Grease” não quer ser um retrato fiel da época, mas sim a sua idealização através de um filtro de exuberância juvenil. John Travolta, em um de seus papéis mais emblemáticos, encarna Danny Zuko com uma combinação irresistível de charme e comicidade, enquanto Olivia Newton-John conduz sua transformação de maneira que, apesar de polêmica sob uma ótica contemporânea, ainda carrega um simbolismo poderoso dentro da narrativa do filme.

Embora alguns diálogos e atitudes reflitam mentalidades datadas, “Grease” permanece um fenômeno porque seu núcleo emocional continua ressoando. Há uma autenticidade na forma como ele captura a inquietação da juventude, os rituais sociais do ensino médio e a busca por identidade, tudo embalado em uma euforia visual e sonora que transcende qualquer contexto temporal. Seu impacto vai além da tela, influenciando gerações, reimaginando o conceito de musical moderno e garantindo seu espaço como um dos filmes mais celebrados de sua categoria. O verdadeiro mérito de “Grease” não está na fidelidade histórica ou na inovação narrativa, mas sim na sua capacidade de, década após década, continuar conquistando novos públicos com a mesma intensidade de sua estreia.

Filme: Grease: Nos Tempos da Brilhantina
Diretor: Randal Kleiser
Ano: 1978
Gênero: Musical/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★