Divertida, inteligente e adorável: a comédia que prova que o riso pode caminhar junto com o bom cinema, na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Divertida, inteligente e adorável: a comédia que prova que o riso pode caminhar junto com o bom cinema, na Netflix

Adentrar o universo de “A Escolha Perfeita” sem grandes expectativas ou até mesmo com um certo ceticismo pode se revelar uma experiência mais envolvente do que se imagina. O longa, que acompanha um grupo feminino de canto a capella determinado a se redimir em uma competição, se apoia em clichês de filmes estudantis e arquétipos facilmente reconhecíveis. No entanto, a produção subverte essa previsibilidade ao tratá-la com inteligência e uma dose bem calibrada de autodepreciação, transformando personagens que poderiam ser meros estereótipos em figuras carismáticas, cujas interações são o verdadeiro motor da narrativa.

A dinâmica entre as protagonistas, ancorada por atuações que equilibram humor e leveza, impulsiona o ritmo do filme. A liderança intransigente de uma, a excentricidade incontrolável de outra e os comentários impagáveis da irreverente Fat Amy, vivida por Rebel Wilson, criam um mosaico de personalidades que, ainda que clichê, são apresentadas com uma energia contagiante. O roteiro não tem receio de brincar com essas caricaturas e, ao se apoiar no humor autárquico, confere frescor a uma fórmula que poderia soar repetitiva.

O melhor do filme é a maneira como a música se insere organicamente na trama. Os números a capella não são meros adornos visuais e sonoros, mas elementos estruturais que guiam a evolução das personagens e de suas relações. A seleção do repertório, que mescla sucessos pop de diferentes épocas, é estratégica: não apenas cativa audiências diversas, mas também reforça a identidade do grupo, tornando cada apresentação um marco narrativo. A coreografia e os arranjos vocais, somados às performances vibrantes, evitam que o filme se torne uma sequência de cenas desconectadas, garantindo que a música seja um motor da história e não apenas um apelo estético.

No quesito humor, o filme se destaca pelo seu timing preciso e pelo trabalho de elenco afiado. O sarcasmo dos comentaristas de competições musicais, interpretados com um brilhantismo mordaz por Elizabeth Banks e John Michael Higgins, adiciona uma camada extra de ironia à produção. A narrativa não se leva excessivamente a sério e abraça um estilo que flerta com o absurdo sem ultrapassar a linha do exagero gratuito. Esse equilíbrio permite que o humor funcione sem comprometer a empatia que o público desenvolve pelas personagens.

“A Escolha Perfeita” consegue se diferenciar pela autenticidade com que conduz sua história. Em vez de tentar se desvencilhar dos clichês, o longa os abraça e os utiliza a seu favor, jogando com a previsibilidade e transformando-a em uma ferramenta de engajamento. Seu apelo vai além dos fãs de musicais: atinge também aqueles que buscam um entretenimento despretensioso, mas com uma energia que sustenta o interesse até o último acorde. A verdadeira vitória do filme está na sua capacidade de conquistar mesmo os mais céticos, provando que, quando bem executada, até a previsibilidade pode se tornar irresistível.

Filme: A Escolha Perfeita
Diretor: Jason Moore
Ano: 2012
Gênero: Comédia/Musical/Romance
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★