Ame ou odeie, mas esse foi o filme que revelou um dos maiores talentos da atualidade, Jacob Elordi, ao mundo, na Netflix Divulgação / Netflix

Ame ou odeie, mas esse foi o filme que revelou um dos maiores talentos da atualidade, Jacob Elordi, ao mundo, na Netflix

“A Barraca do Beijo” consegue capturar a atenção do público ao equilibrar a familiaridade do gênero com uma química genuína entre os personagens. A trama segue o tradicional enredo de comédia romântica adolescente: uma jovem, Elle, se vê dividida entre a amizade com Lee, seu melhor amigo, e o irresistível irmão deste, Noah, com quem ela começa um romance secreto. Apesar de ser claramente influenciado por filmes como “O Primeiro Amor” e “De Repente 30”, que exploram o dilema do melhor amigo apaixonado pela garota, o filme cativa pela leveza e a energia envolvente entre os protagonistas. A atuação de Joey King, Joel Courtney e Jacob Elordi traz um frescor inesperado à história, oferecendo uma nova dimensão a um enredo já explorado em várias produções do gênero. É perceptível como, apesar da previsibilidade, a dinâmica entre os personagens e a direção de Vince Marcello dão à obra um charme especial, que encanta sem grandes pretensões.

Mas a simplicidade do filme não impede que algumas falhas importantes surjam à medida que a narrativa se desenrola. Um dos pontos mais problemáticos é a forma como algumas situações são tratadas, especialmente no que diz respeito a mensagens equivocadas para o público jovem. Um exemplo disso ocorre em uma cena em que Noah agride fisicamente Elle, ainda que de maneira leve, e depois tenta “compensar” seu comportamento com um encontro romântico. Este gesto de desculpas minimiza a gravidade do ocorrido, promovendo a ideia de que uma transgressão emocional pode ser resolvida com uma ação superficial, como um namoro. Essa abordagem distorce a realidade e reforça estereótipos perigosos sobre o respeito nas relações, algo que contrasta com os avanços do discurso moderno sobre consentimento e limites em relacionamentos. Em um filme que se propõe a retratar o universo adolescente de forma leve e acessível, a utilização de tal dinâmica não só parece irreal, mas também transmite um recado problemático sobre como as jovens devem lidar com comportamentos desrespeitosos.

Em termos de desenvolvimento de personagens, a principal protagonista, Elle, embora carismática, não escapa de um tratamento raso em relação às suas características. Sua jornada emocional parece centrada em sua aparência, o que reforça um estereótipo antiquado e limitante de que a mulher deve ser valorizada principalmente por sua beleza física, e não por sua personalidade ou intelecto. Ao longo do filme, vemos Elle angustiada pela percepção alheia de seu corpo, como se sua identidade estivesse intrinsecamente ligada à forma como é vista pelos outros. Essa constante busca pela validação externa empobrece o arco da personagem, tornando-a dependente de uma aprovação estética que deveria ser superada em um gênero que, teoricamente, visa retratar o amadurecimento e o fortalecimento pessoal. A relação entre Elle e Noah também falta substância: o que começa como uma atração superficial se transforma rapidamente em um romance sem maiores explicações sobre a evolução de seus sentimentos. A falta de aprofundamento emocional enfraquece a credibilidade do relacionamento, tornando difícil para o espectador se conectar com a profundidade da relação que, aparentemente, vai além da aparência física dos dois.

Apesar dessas limitações, “A Barraca do Beijo” tem a habilidade de entregar exatamente o que promete: um entretenimento descomplicado, que resgata o charme das comédias românticas clássicas. Sua simplicidade, longe de ser um defeito, é um dos aspectos que mais cativam o público. O filme busca trazer uma narrativa leve, que encanta pela sua acessibilidade e pela nostalgia que evoca. É uma produção que resgata as emoções da juventude e os dilemas típicos da adolescência com um toque de doçura que muitos espectadores já não encontram em filmes mais complexos ou dramáticos. Embora o roteiro seja previsível e alguns personagens careçam de maior profundidade, o longa cumpre seu papel de proporcionar momentos de diversão e alívio, algo que, em tempos de realidades sobrecarregadas, é mais do que bem-vindo.

“A Barraca do Beijo” é um exemplo de como a fórmula das comédias românticas adolescentes ainda pode ser eficaz, mesmo atualmente, em tempos repletos de alternativas mais ousadas e inovadoras. Embora falhe em alguns aspectos de sua mensagem e na construção mais profunda de seus personagens, a produção se sobressai pela sua capacidade de entreter e conectar emocionalmente o público. Para quem busca uma fuga temporária do peso do cotidiano e uma revivência das emoções juvenis, o filme é uma escolha válida. Além disso, a participação de Molly Ringwald, ícone das comédias românticas dos anos 80, em um papel secundário, adiciona uma camada de nostalgia, reforçando o apelo emocional da obra e tornando-a uma experiência agradável e de fácil digestão para aqueles que desejam uma dose de leveza e simplicidade.

Filme: A Barraca do Beijo
Diretor: Vince Marcello
Ano: 2018
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★