Poucas séries conseguem equilibrar com maestria humor, drama e personagens marcantes sem provocar divisões entre o público. Algumas conquistam de imediato, enquanto outras demandam paciência para revelar sua força. “Amor e Batatas” se encaixa nessa segunda categoria, suscitando reações contrastantes: há quem abandone a história nos episódios iniciais e há aqueles que enxergam na evolução de seus personagens um diferencial que a torna digna de atenção.
A principal fonte de discordância está na protagonista. Seu temperamento explosivo, reações desmedidas e traços que flertam com o infantilismo causam incômodo em parte do público, que a considera irritante a ponto de comprometer a experiência. Sua personalidade abrasiva desafia expectativas, especialmente dentro do gênero, no qual protagonistas femininas costumam transitar entre a doçura e a determinação calculada. Assim, sua recepção polarizada não surpreende: muitos espectadores não se sentem compelidos a acompanhar sua trajetória, abandonando a série antes de qualquer desenvolvimento mais profundo. Esse fenômeno evidencia um padrão recorrente na televisão, onde personagens femininas de comportamentos excêntricos ou intensos tendem a enfrentar resistência inicial. No entanto, essa rejeição pode obscurecer méritos que se revelam com o tempo.
Por outro lado, há quem a veja como o ponto de sustentação da narrativa. Interpretada por Lee Sunbin, a personagem transita entre vulnerabilidade e comicidade de maneira única, construindo camadas que enriquecem a trama. Sua jornada, ao longo dos episódios, revela nuances que justificam suas atitudes, e seu carisma se torna, para muitos, um dos pilares da série. Sua interação com Kang Tae-oh, que assume o papel masculino principal, adiciona dinamismo à história, ainda que o desenvolvimento de seu personagem seja mais raso, frequentemente reduzido ao arquétipo do galã encantador.
Com o avançar da trama, a série recompensa aqueles que permanecem. O que começa com um ritmo desacelerado se transforma em uma narrativa repleta de reviravoltas inesperadas, um quadrângulo amoroso cativante e humor físico que surpreende. A produção se permite explorar exageros, apostando em situações inusitadas que garantem momentos de riso genuíno, característica marcante das melhores comédias românticas coreanas. Mesmo a previsibilidade, que em outros contextos poderia ser vista como uma falha, aqui se torna um trunfo, oferecendo ao espectador uma experiência envolvente e familiar.
Ainda que apresente fragilidades pontuais, como a superficialidade de alguns personagens masculinos e certas inconsistências no roteiro, “Amor e Batatas”encontra seu público ao brincar com convenções do gênero e apresentar uma protagonista que não se encaixa em moldes convencionais. E talvez esse seja seu maior mérito: provocar reações intensas, desafiar expectativas e manter o espectador engajado, seja pela afeição, seja pelo estranhamento. Afinal, se uma série consegue despertar debates acalorados, é porque há algo nela que merece ser visto.
★★★★★★★★★★
