Prequela de franquia que levou 100 milhões de espectadores aos cinemas e arrecadou 5 bilhões no mundo inteiro, está na Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Prequela de franquia que levou 100 milhões de espectadores aos cinemas e arrecadou 5 bilhões no mundo inteiro, está na Netflix

Desde sua estreia, a franquia “Um Lugar Silencioso” construiu um universo onde o silêncio é tanto refúgio quanto sentença de morte. O lançamento de “Um Lugar Silencioso: Dia Um” trouxe consigo uma expectativa compreensível, sobretudo para aqueles que ansiavam por uma imersão mais detalhada no caos inicial da invasão alienígena. No entanto, a mais recente produção opta por um caminho menos grandioso, afastando-se da destruição em escala global para se concentrar em uma narrativa de sobrevivência mais contida, impulsionada pela perspectiva de personagens que não possuem respostas, apenas o medo e a incerteza diante do desconhecido.

O que poderia ter sido um relato épico sobre a irrupção de um novo apocalipse se transforma, em vez disso, em um thriller intimista, guiado pela jornada de Samira (Lupita Nyong’o) e Eric (Joseph Quinn) em uma Nova York que se torna, a cada ruído, um campo de caça para predadores implacáveis. Samira, gravemente doente, encara a catástrofe com uma resignação melancólica, enquanto Eric, lidando com traumas não explicitados, se torna um parceiro improvável nessa travessia pelo desconhecido. O vínculo entre os dois se desenvolve rapidamente, e embora o roteiro nem sempre ofereça justificativas profundas para essa conexão, a intensidade das performances sustenta a relação e confere um peso emocional genuíno à narrativa.

A expectativa de uma abordagem mais expansiva, explorando o pânico da humanidade ao descobrir que o som atrai a morte, não se concretiza da maneira que muitos esperavam. A brutalidade da primeira onda de ataques é menos explorada do que se previa, e as grandes descobertas sobre os alienígenas ocorrem fora da tela. Isso gerou frustração em parte do público, mas também reforça a identidade da franquia: desde o primeiro filme, a proposta nunca foi explicar o inexplicável, e sim retratar a fragilidade da existência diante de um colapso abrupto. O horror aqui não está na grandiosidade do evento, mas na intimidade do medo e na impossibilidade de reagir a ele sem consequências fatais.

A direção de Michael Sarnoski mantém um refinamento técnico que valoriza o contraste entre a vastidão da cidade e a vulnerabilidade individual. O design sonoro, elemento fundamental da franquia, continua exercendo um papel crucial, conduzindo a tensão e ditando o ritmo da narrativa. Nova York, reduzida a um labirinto de ameaças silenciosas, funciona como um cenário opressivo onde a cada esquina espreita o risco da aniquilação instantânea. Entretanto, a escala da produção parece menor do que o material promocional sugeria, e isso pode desagradar aqueles que esperavam uma abordagem mais ambiciosa.

Parte das críticas negativas ao filme vem da desconexão entre a expectativa e a execução da proposta. Muitos queriam respostas sobre a origem dos alienígenas ou uma exploração mais minuciosa da lógica por trás da invasão, mas a franquia nunca se preocupou em fornecer esse tipo de explicação. O foco sempre esteve na perspectiva humana, nas reações individuais ao caos e na necessidade de encontrar formas de resistir quando a normalidade se dissolve.

Dentro dessa abordagem mais intimista, alguns momentos se destacam. O desejo de Samira de comer uma última fatia de pizza antes de sua morte anunciada se torna um detalhe simbólico que encapsula toda a essência do filme: em meio ao desespero absoluto, é nos gestos banais que a humanidade encontra suas últimas ancora de normalidade.

“Um Lugar Silencioso: Dia Um” não se equipara ao impacto inovador do primeiro filme, mas entrega uma experiência envolvente para aqueles que aceitam sua proposta. Ao optar por um recorte mais subjetivo em vez da expansão grandiosa do universo da franquia, a produção refina a tensão psicológica e reitera a ideia de que, no fim, o que define nossa sobrevivência não é a compreensão do apocalipse, mas sim as pequenas escolhas que fazemos enquanto ele nos engole. Para os que buscam respostas concretas, o filme pode decepcionar; para aqueles que embarcam na premissa proposta, ele oferece um estudo atmosférico do medo e da resiliência humana diante do inevitável.

Filme: Um Lugar Silencioso
Diretor: Michael Sarnoski
Ano: 2024
Gênero: Drama/Ficção Científica/Terror/Thriller
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★