Prepare-se para o pânico: estudos científicos comprovam que esse filme é o mais assustador dos últimos 5 anos e está na Netflix Divulgação / Diamond Films

Prepare-se para o pânico: estudos científicos comprovam que esse filme é o mais assustador dos últimos 5 anos e está na Netflix

Os estúdios de televisão dos anos 1970, iluminados por refletores incandescentes e adornados com cortinas de veludo, tornaram-se palco para a ascensão e queda de figuras que buscavam desesperadamente um lugar no imaginário popular. Em “Entrevista com o Demônio”, os irmãos Colin e Cameron Cairnes transportam o espectador para esse ambiente efervescente, onde o desejo por audiência se mistura a um horror inesperado. A narrativa acompanha Jack Delroy, um apresentador cujo programa, “Night Owls”, nunca conseguiu superar a popularidade de Johnny Carson. No Halloween de 1977, na tentativa de capturar a atenção do público e salvar sua carreira, ele conduz uma transmissão que foge completamente ao controle, transformando-se em um espetáculo de terror autêntico.

A trama se desenvolve dentro da estética do found footage, uma escolha que vai além do mero estilo visual para se consolidar como elemento central da construção narrativa. O filme não se limita a replicar a atmosfera dos talk shows setentistas; ele disseca as engrenagens desse universo, revelando a obsessão midiática pela morbidez e pela manipulação do medo como forma de entretenimento. A autenticidade visual é reforçada pelo meticuloso trabalho de direção de arte de Otello Stolfo e pelo figurino de Steph Hooke, que recriam com precisão os códigos visuais da época. A fotografia de Matthew Temple, ao adotar o sistema clássico de três câmeras, transporta o público diretamente para a experiência de assistir a uma transmissão ao vivo, enquanto a trilha sonora de Glenn Richards, acompanhada dos arranjos da The Night Owls Studio Orchestra, amplia a sensação de imersão.

David Dastmalchian, no papel de Jack Delroy, entrega uma performance magnética, transitando entre o carisma teatral e a inquietação latente de alguém que está prestes a perder tudo. Seu desempenho sustenta a tensão crescente do longa, tornando palpável a deterioração de um homem que vendeu sua alma, metafórica e talvez literalmente, pelo espetáculo. O roteiro estrutura essa espiral descendente de forma meticulosa, apresentando o apresentador como um homem ambicioso que, diante do fracasso iminente, se permite ultrapassar qualquer limite em busca da relevância perdida.

Entretanto, apesar da construção envolvente, o filme apresenta fragilidades em sua resolução. O crescendo de tensão que guia a narrativa dá lugar a um desfecho que, embora visualmente impactante, não entrega a profundidade esperada. A personagem Lily, peça-chave na atmosfera enigmática da trama, carece de um desenvolvimento mais sólido, deixando pontas soltas que poderiam enriquecer o impacto final. Além disso, a crítica à obsessão pela fama, ainda que pertinente, se torna excessivamente reiterativa, diluindo parte do horror genuíno que permeia a obra.

Mesmo com essas limitações, “Entrevista com o Demônio” se destaca como um projeto singular dentro do gênero. No meio de inúmeras franquias e fórmulas repetitivas, o filme demonstra que ainda há espaço para a inovação no terror. A obra não apenas homenageia a era dos talk shows, mas a utiliza como espelho para uma discussão sobre os limites da espetacularização, questionando até que ponto estamos dispostos a ir em nome do entretenimento. Seu impacto não está apenas nos sustos ou na estética vintage, mas na desconfortável reflexão que desperta: e se aquilo que consumimos como espetáculo for, na verdade, algo muito mais sombrio e incontrolável?

Filme: Entrevista com o Demônio
Diretor: Cameron Cairnes e Colin Cairnes
Ano: 2023
Gênero: Terror
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★