Desde seus instantes iniciais, “Jogo do Dinheiro” estabelece um ritmo acelerado e ininterrupto, transformando um impasse financeiro em um espetáculo de tensão crescente. Sob a direção de Jodie Foster, o filme transcende a mera crítica ao sistema econômico e se posiciona como uma reflexão sobre os mecanismos midiáticos que moldam a percepção do público. O roteiro se desenrola em tempo real, intensificando a imersão do espectador e garantindo que cada reviravolta aconteça sob os holofotes da transmissão ao vivo — um jogo de manipulação em que cada personagem luta para definir a narrativa dominante.
A trama acompanha Lee Gates (George Clooney), um apresentador de televisão cujo carisma exagerado mascara a superficialidade das análises financeiras que oferece em seu programa. Sua produtora, Patty Fenn (Julia Roberts), comanda os bastidores com precisão cirúrgica, garantindo que cada enquadramento e fala contribuam para manter a audiência engajada. No entanto, o espetáculo midiático é abruptamente interrompido quando Kyle Budwell (Jack O’Connell), um pequeno investidor arruinado por um colapso inesperado nas ações, invade o estúdio armado e transforma o episódio em um cerco televisionado. O confronto que se segue não é apenas físico, mas ideológico: um embate entre aqueles que dominam as narrativas do mercado e aqueles que sofrem suas consequências.
Foster constrói um thriller onde a tensão se sustenta menos na ameaça da violência e mais na imprevisibilidade das reações dos envolvidos. O filme não se contenta em simplesmente expor o cinismo do mundo financeiro; ele investiga as engrenagens que tornam figuras como Lee Gates catalisadores da especulação desenfreada. O personagem de Clooney evolui gradativamente, partindo da arrogância para uma compreensão tardia do impacto que sua influência tem sobre pessoas como Kyle. Julia Roberts, por sua vez, entrega uma performance sóbria, conferindo à sua personagem uma autoridade discreta, mas essencial para manter o controle sobre a situação.
O roteiro evita reducionismos ao não transformar Kyle em um vilão ou um mártir ingênuo. Seu desespero, embora exposto de forma visceral, não exclui contradições e fragilidades, tornando-o um personagem tridimensional. O’Connell imprime intensidade ao papel, equilibrando revolta e vulnerabilidade em doses precisas. Seu Kyle não busca apenas respostas sobre o dinheiro perdido, mas também um senso de justiça em um sistema que parece funcionar por regras invisíveis e imutáveis.
Ainda que “Jogo do Dinheiro” tenha claras inspirações em obras como “Rede de Intrigas” e “Um Dia de Cão”, sua abordagem não é tão contundente quanto poderia ser. Diferente de “A Grande Aposta”, que desvendou as engrenagens da crise de 2008 com perspicácia, o longa de Foster opta por um caminho mais direto, priorizando a tensão do momento presente em detrimento de uma análise mais profunda do sistema financeiro. Esse enfoque resulta em um thriller eficaz, mas que, em determinados momentos, parece hesitar entre a crítica e o entretenimento.
Mesmo com essa limitação, o filme subverte algumas expectativas. Sequestradores e reféns não seguem arquétipos previsíveis, e a resolução do impasse foge das convenções típicas, ainda que deixe transparecer certa previsibilidade nos minutos finais. A sátira à espetacularização da economia é pertinente, mas a caricatura excessiva de certos elementos pode enfraquecer o impacto da mensagem para espectadores menos familiarizados com o universo dos programas de investimentos.
No conjunto, “Jogo do Dinheiro” entrega um suspense sólido, sustentado por atuações envolventes e uma direção que equilibra tensão e fluidez narrativa com competência. O filme funciona como uma dissecação da cultura do entretenimento financeiro, evidenciando como a volatilidade do mercado se torna um espetáculo de fácil digestão para as massas. Embora não alcance a sofisticação analítica de outras obras do gênero, a produção cumpre seu papel ao entrelaçar crítica social e ritmo cinematográfico, garantindo uma experiência imersiva que, mesmo sem reinventar a fórmula, se mantém instigante do começo ao fim.
★★★★★★★★★★