O filme que até quem odeia Zack Snyder chamou de obra-prima acaba de chegar à Max Divulgação / Paramount Pictures

O filme que até quem odeia Zack Snyder chamou de obra-prima acaba de chegar à Max

Em 1985, um dos maiores perigos para a América era ter Ronald Reagan (1911-2004) novamente na presidência. Como se sabe, Reagan foi reeleito, e abriu-se mais um capítulo da Guerra Fria (1947-1991), durante o qual heróis mascarados foram se tornando delinquentes. Uma destruição nuclear iminente junta tipos com dons especiais interagindo numa sociedade falida, em que fica cada vez mais difícil entender qual o papel das instituições e dos políticos, e então começa-se a saber do que se trata “Watchmen”.

Em sua adaptação da graphic novel de Dave Gibbons, John Higgins e Alan Moore, publicada em 1986 e uma das maiores obras dos quadrinhos, Zack Snyder faz questão de manter o tom de crítica sociológica do original — até porque a natureza distópica do mundo e da humanidade nunca surpreende e consegue piorar a cada década. Perito em contar essas histórias, Snyder deslinda um cenário de generalizada melancolia até que possa atingir o núcleo do enredo, a investigação do homicídio de um herói aposentado que pode desencadear, afinal, o fim dos tempos. E a vida imita a arte nessa fábula infernal.

Super-heróis de correntes as mais variadas, dos mais solares ao mais chegados ao mundo das trevas, têm um ponto em comum: lutam contra as memórias de uma infância triste, que, claro, ficam naquele eterno vaivém que os predispõem a se lançar a empreitadas cada vez mais arriscadas, quiçá até suicidas, visando não somente o bem da humanidade, mas um acerto de contas com sua própria vida. A morte de Edward Morgan Blake movimenta o roteiro de David Hayter e Alex Tse.

Muita gente quer vingar o assassinato do Comediante, e Rorschach dedica-se especialmente a desvendar os mistérios em torno do crime. Esse vigilante das trevas e sua célebre máscara branca manchada de negro, como num constante desafio à frieza de seus oponentes, persegue a verdade onde quer que ela se insinue, sem importar com detalhes como ética, moral ou proporcionalidade no contragolpe. Sua missão está mais árdua porque o governo proibiu qualquer um que não faça parte da polícia ou das Forças Armadas a intervir no combate ao crime, mas a gravidade do acontecimento o obriga a reunir os demais Watchmen, sem saber que o feitiço pode virar contra o feiticeiro.

Num desempenho mais que convincente e quase excepcional em vários momentos, Jackie Earle Haley dá corpo a um Rorschach atormentado, mas que sabe muito bem traduzir seu desajuste em ação e reação, à medida que os outros personagens entram em cena. Mais poderoso, Dr. Manhattan, a figura excêntrica e ambígua encarnada por Billy Crudup, acrescenta mais possibilidades dramáticas ao filme, que vai se alternando entre a trama original e as saborosas invencionices de Snyder, que não deixa que nada sobre ou falte num monumento à tecnologia de 142 minutos.

Filme: Watchmen
Diretor: Zack Snyder
Ano: 2009
Gênero: Ação/Drama/Ficção Científica
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.