“Ted 2” pode ser descrito como um filme que se encontra em uma encruzilhada criativa, tentando equilibrar sua essência irreverente com uma tentativa de abordar temas sérios, como a luta pelos direitos civis de um ursinho de pelúcia. Essa premissa, sem dúvida, oferece um terreno fértil para explorar questões existenciais e legais. No entanto, o longa não consegue se desvincular do tom irreverente que consagrou seu antecessor, criando uma sensação de incoerência ao longo da narrativa. Ao misturar comédia vulgar com questões de identidade e direitos, a produção oscila entre um humor que, em muitos momentos, parece desprovido de profundidade e uma tentativa forçada de conferir peso filosófico à história. A dificuldade de encontrar uma harmonia entre esses dois universos resulta em uma comédia que, embora divertida, não atinge o impacto que poderia.
O principal desafio de “Ted 2” é a transição entre momentos de humor escrachado e os momentos que buscam um tom mais sério. A primeira metade do filme é a mais bem-sucedida nesse sentido, com piadas eficazes e situações cativantes, que ainda conservam a espontaneidade e irreverência do primeiro filme. No entanto, conforme a trama avança, o tom se fragmenta e a tentativa de criar um clímax dramático se perde, tornando-se uma série de tentativas desconexas de gerar um impacto emocional. A inserção de números musicais e a inclusão de uma cena que remete a uma coreografia de estilo Broadway, elementos típicos do repertório de Seth MacFarlane, só reforçam a impressão de que o filme não consegue decidir se quer ser uma comédia leve ou algo mais substancial.
A substituição de Mila Kunis por Amanda Seyfried no papel de parceira de Mark Wahlberg, embora eficaz, não consegue criar a mesma dinâmica entre os personagens, mas ainda assim, a presença de Seyfried traz frescor ao enredo. No entanto, é a falta de Mila Kunis que, embora não prejudique de forma significativa o fluxo do filme, faz falta em um nível emocional e de conexão entre os personagens.
Enquanto “Ted 2” se apega ao que fez o primeiro filme um sucesso — referências à cultura pop, humor ácido e absurdos inusitados —, a história em si carece de inovação. A reintrodução do vilão do primeiro filme e a volta de personagens que não adicionam substancialmente à trama criam uma sensação de déjà vu, prejudicando a promessa de uma sequência mais ousada e criativa. Mesmo quando o filme tenta, de forma audaciosa, tocar em temas profundos como a definição de identidade e a luta pelos direitos de um ser considerado “não humano”, essas tentativas acabam sendo tratadas de maneira superficial e sem um real desenvolvimento.
“Ted 2” acaba sendo uma sequência previsível que não ousa ou se reinventa de maneira significativa. Embora ainda entregue algumas boas risadas e apresente momentos divertidos, o filme não consegue replicar o frescor ou a inovação do original. O estilo irreverente de MacFarlane permanece intacto, mas a repetição de piadas e a falta de uma resolução satisfatória para os conflitos levantados minam a potência emocional do filme. “Ted 2” funciona como uma extensão do primeiro filme para os fãs da franquia, oferecendo exatamente o que se espera: um humor exagerado e personagens carismáticos, sem uma profundidade maior. Para aqueles que apreciam a fórmula, o filme cumpre sua missão de entreter, mas sem provocar o mesmo impacto cultural que o seu predecessor.
★★★★★★★★★★