Nos últimos anos, Hollywood tem demonstrado um renovado interesse em recuperar a essência dos thrillers de ação que dominaram os anos 90. Foi uma era marcada pela adrenalina em estado bruto, quando a fisicalidade das cenas e a simplicidade objetiva da narrativa sobrepunham-se às complexidades dramáticas e ao uso exacerbado de efeitos digitais. Embora os filmes contemporâneos ainda não tenham alcançado plenamente aquela intensidade cuidadosamente construída, algumas produções recentes tentam resgatar esse espírito, oferecendo uma experiência envolvente que se sustenta na tensão e no carisma de seus personagens. Dentro desse movimento, “Bagagem de Risco”, thriller da Netflix ambienta sua trama em um aeroporto durante o período natalino, utilizando uma narrativa direta, personagens bem definidos e uma atmosfera claustrofóbica para manter o espectador imerso no jogo de perseguição e perigo iminente.
A simplicidade do enredo funciona muito bem: em vez de depender de reviravoltas rocambolescas ou construções narrativas excessivamente intrincadas, a história aposta na urgência e na imersão imediata. Ethan Kopek (Taron Edgerton), um funcionário da segurança aeroportuária, se vê envolvido em uma situação de chantagem que o obriga a permitir a passagem de um passageiro carregando um pacote de alto risco. A partir desse ponto, a tensão cresce de forma orgânica, sustentada por uma atmosfera de paranoia e um dilema moral que impulsiona a trama adiante. A duração do filme, em torno de duas horas, pode parecer ligeiramente estendida em alguns momentos, mas, no geral, a narrativa mantém o ritmo necessário para prender a atenção do público.
A força da produção está, em grande parte, no desempenho do elenco. Egerton entrega uma interpretação que equilibra vulnerabilidade e determinação, tornando seu personagem não apenas crível, mas também envolvente. Jason Bateman, interpretando um vilão com nuances inesperadas, adiciona uma camada extra de complexidade à dinâmica central do filme. O elenco secundário, especialmente a policial que acompanha a investigação, também contribui para manter a intensidade das interações e dar peso às cenas de confronto. Um dos aspectos mais louváveis da obra está na escolha de priorizar efeitos práticos em detrimento do CGI exagerado. Essa decisão dá autenticidade às sequências de ação, reforçando a sensação de perigo e resgatando um elemento essencial dos thrillers clássicos: a fisicalidade das cenas.
Naturalmente, como acontece em boa parte dos filmes de ação, há momentos em que a lógica cede espaço ao espetáculo. Algumas decisões dos personagens desafiam a racionalidade, como a opção de se esconder em uma ala deserta do aeroporto, tornando-se alvos fáceis para seus perseguidores. No entanto, essas escolhas narrativas, longe de comprometerem a experiência, fazem parte da convenção do gênero e funcionam dentro da proposta do filme. Além disso, a ambientação natalina adiciona um contraste curioso à trama, utilizando músicas temáticas e elementos visuais para criar uma atmosfera que oscila entre o aconchegante e o ameaçador, tornando-se um pano de fundo inesperado para um thriller de alta tensão.
Este não é um filme que entrará para os anais do cinema ou receberá grandes premiações, mas cumpre sua missão com eficiência: proporcionar uma experiência intensa e eletrizante, sem exigir muito do espectador. Ideal para uma sessão despretensiosa, a produção se encaixa perfeitamente naquele nicho de entretenimento que combina ação bem executada, personagens cativantes e um cenário que favorece o suspense. Embora ainda haja um caminho a ser percorrido para que Hollywood recupere plenamente a energia visceral dos thrillers noventistas, este filme se posiciona como um passo sólido nessa direção. Se a intenção era relembrar a adrenalina da época sem cair em excessos estilísticos, o resultado prova que o gênero continua vivo e relevante, pronto para conquistar novas gerações de espectadores ávidos por tensão e escapismo cinematográfico de qualidade.
★★★★★★★★★★