Um dos filmes mais aguardados dos últimos 3 anos finalmente chega à Netflix e alcança o Top 3 já no primeiro dia Divulgação / Columbia Pictures

Um dos filmes mais aguardados dos últimos 3 anos finalmente chega à Netflix e alcança o Top 3 já no primeiro dia

A ciência, quando levada ao extremo, beira o sobrenatural. Para alguns, representa um portal para o desconhecido; para outros, um caminho sem volta. Michael Morbius aprendeu isso da pior maneira possível. Ele não apenas recusaria um Nobel se lhe fosse oferecido, mas também adquiriu habilidades que desafiam as leis naturais: desloca-se com fluidez anômala, orienta-se com precisão cirúrgica em qualquer fuso horário — e parece mais à vontade sob a escuridão, como se ela o reconhecesse como um de seus próprios filhos. Para ele, o sangue não é apenas um fluido vital, mas um manjar necessário, um tributo à mutação que o definiu.

Em meio à complexidade dos personagens da Marvel, poucos carregam tantas ambiguidades quanto ele. Essa intricada fusão entre genialidade e maldição levou Daniel Espinosa a lhe conceder um filme próprio, no qual a adaptação busca resgatar a natureza perturbadora do vampiro vivo concebido por Gil Kane e Roy Thomas. O roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless oscila entre a gênese de Morbius e o futuro incerto que ele vislumbra — uma trajetória que se bifurca entre o desejo de redenção e a condenação irreversível. Mas um fato permanece imutável: ele nunca cogitou a derrota.

Espinosa não demora a expor o eixo central dessa jornada: na tentativa desesperada de vencer uma doença genética rara que o aprisiona desde o nascimento, Morbius funde seu próprio DNA ao de morcegos vampiros. O resultado, porém, não é a cura, mas a transformação. Uma criatura renasce dele, dotada de habilidades sobre-humanas, mas também de um insaciável apetite pelo que antes o debilitava. Sua fisiologia se altera de maneira drástica: a luz fere como lâminas, seus ossos se tornam frágeis sem a dose certa de nutrição, e sua mobilidade antes comprometida se converte em uma agilidade animalesca.

Em paralelo, a trama apresenta Lucian Crown, um amigo de infância que carrega a mesma enfermidade e enxerga no experimento de Morbius a chance de transcender a fragilidade humana. Mas a eternidade tem um preço, e ele está disposto a pagá-lo sem hesitação. A relação entre ambos se enreda na velha dialética do mestre e do discípulo, da ciência e do ego, onde um deseja conter os estragos de sua descoberta enquanto o outro vê nela a chave para a libertação.

O filme navega entre alegorias sobre o peso da escuridão interior e um confronto direto com as consequências da própria ambição. A figura de Morbius transita entre um cientista atormentado e uma criatura impulsionada por instintos primitivos, um paradoxo que se reflete na composição de Jared Leto, cuja atuação oscila entre a introspecção e o exagero controlado. Ao seu lado, Matt Smith encarna Lucian com um desdém quase teatral, um contraponto vibrante ao dilema de Morbius.

Martine Bancroft, vivida por Adria Arjona, surge como um eixo moral que tenta equilibrar a tempestade que se forma, mas seu papel nunca se expande para além da sombra dos protagonistas. A narrativa, por sua vez, recicla arquétipos e se apoia no conceito da dualidade, um recurso frequentemente explorado em histórias do gênero. No entanto, entre sangue e sombras, fica a impressão de que Morbius jamais escapa do maior dos paradoxos: sua própria existência é tanto um milagre quanto uma maldição — e talvez seja isso que o torne fascinante.

Filme: Morbius
Diretor: Daniel Espinosa
Ano: 2022
Gênero: Ação/Terror
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★