8 indicações ao Oscar 2025. Já no Prime Video. Só falta você Divulgação / FilmNation Entertainment

8 indicações ao Oscar 2025. Já no Prime Video. Só falta você

Processos eleitorais são sempre arenas de disputas que extrapolam a compreensão do cidadão comum. Quando a escolha recai sobre homens que deveriam ser guias espirituais, figuras que pregam renúncia e virtude, a ironia do jogo de poder se torna ainda mais pungente. A lógica do mundo secular, movida por ambição e segredos, não deveria penetrar na esfera daqueles que, teoricamente, renunciam a tudo para se aproximar do divino. E, no entanto, um bilhão e meio de fiéis testemunham um evento carregado de tensão e contradição, cujo véu de solenidade mal consegue encobrir as manobras de bastidores. Esse é o cenário em que se insere a adaptação de “Conclave”, dirigida por Edward Berger, que mergulha nas sombras desse teatro sagrado sem perder de vista o elemento humano que o impulsiona.

Berger, reconhecido por sua capacidade de desconstruir narrativas estabelecidas, assume um papel ainda mais audacioso ao dar forma ao roteiro assinado por Peter Straughan, baseado no livro homônimo de Robert Harris. “Conclave” não é apenas uma incursão nos corredores vaticanos; é um estudo de caráter disfarçado de suspense, onde a fé e a política se entrelaçam de maneira inextricável. Segredos que deveriam permanecer entre o penitente e seu Criador tornam-se moeda de troca, e o que se revela, mais do que meros desvios morais, é uma instituição dividida entre o ideal e a necessidade de sobrevivência. Berger explora com precisão essa dicotomia, expondo as fraquezas da hierarquia católica sem recorrer a julgamentos fáceis.

O primeiro vislumbre do conclave surge ao redor de um leito onde repousa um ancião que evoca a figura de Joseph Ratzinger, interpretado por Bruno Novelli. Ali, entre murmúrios e olhares carregados de significados não ditos, está Lawrence, o cardeal britânico a quem cabe a tarefa simbólica — e brutal — de remover O Anel do Pescador da mão do falecido pontífice. O gesto, que exige mais força do que deveria, sugere a dificuldade em romper com um legado, um peso que se estende para além do ato físico. Como decano, Lawrence será o encarregado de conduzir o Colégio dos Cardeais na árdua missão de definir o próximo líder da Igreja. Com os purpurados confinados em uma ala da Capela Sistina, a encenação prossegue: cada voto depositado na urna alimenta um ritual milenar, cujo desfecho se anuncia nas colunas de fumaça que ascendem sobre a Cidade Eterna.

Mas o que deveria ser um momento de discernimento espiritual logo se converte em um campo de batalha silencioso, onde cada cardeal carrega um fardo — ou um segredo. Joshua Adeyemi, vivido por Lucian Msamati, vê-se enredado em murmúrios sobre um envolvimento proibido com uma freira que ainda circula nos corredores do Vaticano, trazendo consigo uma lembrança incômoda. Já Vincent Benitez, um nome inesperado na disputa, carrega a marca de sua nomeação sigilosa pelo papa recém-falecido, um detalhe que provoca desconfiança entre os demais. No entanto, entre todos os participantes dessa trama, nenhum inspira tanto receio quanto Goffredo Tedesco, um homem de rígida ortodoxia que não hesitaria em expurgar qualquer vestígio de modernização da Igreja, mesmo que isso significasse reacender velhas perseguições.

Ralph Fiennes comanda um elenco de grande calibre, no qual Isabella Rossellini retorna ao cinema em um momento oportuno, acompanhada por veteranos como John Lithgow e Stanley Tucci. Sergio Castellitto, por sua vez, dá vida a Tedesco sem conceder ao personagem qualquer traço de maniqueísmo, tornando sua presença ainda mais inquietante. A fotografia de Stéphane Fontaine amplifica a solenidade do ambiente, contrastando a grandiosidade barroca com a fragilidade humana que ali se desenrola. Quando Benitez, interpretado por Carlos Diehz, emerge no centro de um desenlace inesperado, a beleza visual do filme não suaviza sua revelação, mas sim amplifica o desconforto. Do outro lado da cidade, em um leito hospitalar do Agostino Gemelli, Jorge Mario Bergoglio trava sua própria batalha, enquanto a Igreja enfrenta mais uma escolha que definirá seus rumos — ou apenas reafirmará suas contradições.

Filme: Conclave
Diretor: Edward Berger
Ano: 2024
Gênero: Drama/Suspense
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★