Jared Leto vive anti-herói da Marvel em um thriller sombrio e viciante na Netflix Divulgação / Columbia Pictures

Jared Leto vive anti-herói da Marvel em um thriller sombrio e viciante na Netflix

Desde o anúncio de “Morbius” pela Sony Pictures, o projeto dividiu opiniões: de um lado, a expectativa em torno da adaptação de um dos anti-heróis mais enigmáticos da Marvel; de outro, o ceticismo fundamentado no histórico irregular do estúdio em transpor personagens dos quadrinhos para as telas. O longa dirigido por Daniel Espinosa, contudo, não se alinha completamente às previsões mais pessimistas. Ainda que não consiga alcançar o potencial pleno de seu protagonista, oferece uma narrativa eficiente e se desvencilha, em parte, da estética saturada do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), embora falte ousadia para consolidar uma identidade realmente marcante.

A principal fragilidade do filme está nas escolhas que suavizam sua atmosfera. “Morbius” poderia ter abraçado um tom mais sombrio, reforçando os elementos de horror inerentes ao personagem, mas opta por um direcionamento comercial mais seguro. A ausência de violência explícita compromete a autenticidade da trama, tornando algumas sequências artificiais e limitando o impacto emocional das transformações de Michael Morbius. Além disso, a montagem se mostra problemática, com cortes abruptos que prejudicam o ritmo da narrativa, enfraquecendo a tensão que poderia elevar a experiência. O excesso de CGI nos confrontos finais não só dilui o peso dramático das cenas como também remete a uma estética genérica que já se tornou lugar-comum em produções do gênero.

Por outro lado, o filme conta com elementos que o tornam mais interessante do que o esperado. Jared Leto, cujo histórico recente de atuações foi alvo de críticas, surpreende ao compor um protagonista que equilibra fragilidade e intensidade. Seu Morbius não é apenas um cientista obcecado por uma cura, mas um homem que se vê tragado por uma existência que desafia suas convicções morais. Embora o roteiro não aprofunde totalmente esse dilema, Leto consegue dar nuances ao personagem. Ao seu lado, Adria Arjona traz carisma e consistência à trama, enquanto Matt Smith, mesmo exagerado em certos momentos, injeta energia ao antagonista.

O enredo, estruturado de forma linear e acessível, é tanto um acerto quanto uma limitação. Para os fãs de quadrinhos, a abordagem pode parecer simplificada demais, sem riscos narrativos significativos. No entanto, para espectadores que não estão familiarizados com o personagem, essa estrutura facilita a imersão, funcionando como um ponto de entrada eficiente. A decisão de manter um ritmo ágil e uma duração relativamente curta, em oposição às tramas excessivamente elaboradas de outros blockbusters, pode ser um alívio para aqueles que buscam uma experiência direta e sem rodeios.

“Morbius” oscila entre momentos bem-executados e sequências que demonstram a falta de refinamento técnico. Se por um lado as transformações do personagem são impactantes, com efeitos gráficos que capturam sua natureza bestial, por outro, há um uso excessivo de artifícios digitais que tornam algumas cenas genéricas e previsíveis. A direção de fotografia, embora funcional, poderia ter explorado melhor os contrastes entre luz e sombra para intensificar o aspecto gótico da narrativa, algo que se perde em meio a uma paleta de cores genérica e pouco expressiva.

No conjunto, “Morbius” não chega a ser um desastre, mas tampouco se estabelece como um marco dos filmes de herói. Sua maior falha é a falta de ambição para explorar integralmente as complexidades do protagonista, enquanto seu mérito reside na construção de um entretenimento ágil e relativamente envolvente. A questão que permanece é se futuras incursões desse personagem no cinema conseguirão expandir suas camadas narrativas e fazer jus ao potencial desperdiçado nesta primeira aparição solo.

Filme: Morbius
Diretor: Daniel Espinosa
Ano: 2022
Gênero: Ação/Crime/Drama/Ficção Científica/Thriller
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★