A melhor série de 2025 na Netflix — 98% de aprovação no Rotten Tomatoes Divulgação / Plan B Entertainment

A melhor série de 2025 na Netflix — 98% de aprovação no Rotten Tomatoes

Poucas séries conseguem traduzir o terror, o medo, a angústia e a decepção como “Adolescência”, minissérie criada por Stephen Graham e Jack Thorne, que estreou recentemente na Netflix. Com cerca de uma hora de duração, cada episódio se concentra em diferentes personagens que orbitam uma tragédia ocorrida em uma cidade do Reino Unido. Um adolescente de 13 anos é preso sob suspeita de ser o autor do homicídio de uma garota da mesma idade. A história não se preocupa em detalhar o modus operandi do crime, tampouco esclarece plenamente suas motivações ou acompanha o desenrolar do processo. O foco está, sobretudo, nos impactos imediatos da tragédia naquela comunidade.  

O primeiro episódio acompanha Jamie Miller (Owen Cooper), um menino pequeno e aparentemente frágil de 13 anos, que é despertado por policiais às seis da manhã. Eles arrombam a porta da casa da família, obrigam todos a se deitarem no chão e invadem o quarto para levar Jamie em uma viatura. O garoto, assustado e impotente, repete que “não fez nada”.  

Cada episódio é filmado em plano-sequência, colocando os espectadores dentro dos corredores da delegacia, em cada cômodo restrito e diante das conversas mais íntimas e sigilosas. Tudo é exposto ao público de forma crua, realista e urgente, com câmeras operadas à mão, que balançam enquanto capturam os ângulos mais precisos e acompanham os passos apressados. O ritmo frenético se alterna entre os policiais que percorrem a delegacia, a família que aguarda incrédula maiores explicações sobre o motivo de Jamie ter sido arrancado violentamente de casa, e o advogado que o orienta a não dizer nada. “Se Jamie foi preso da forma como foi, a polícia provavelmente já tem muitas informações sobre o crime e está convencida de que ele é o autor”, afirma o advogado ao pai, Eddie, interpretado de forma magistral por Graham.  

O episódio seguinte se desenrola na escola, enquanto os investigadores Luke Bascombe (Ashley Walters) e Misha Frank (Faye Marsch) interrogam alunos que possivelmente saibam algo sobre as motivações de Jamie e o paradeiro da faca desaparecida usada no crime. O episódio é incômodo e perturbador, pois transmite uma sensação de completo descontrole por parte das autoridades escolares diante de adolescentes que parecem viver sob regras próprias, regendo-se pelas leis do bullying, do cyberbullying e da intimidação. O ambiente escolar é um campo minado, e Bascombe e Frank parecem completamente despreparados para lidar com esses jovens, até que Bascombe, relutante, precisa finalmente ouvir seu próprio filho, Frank (Claudius Peters), um dos alunos da escola e a quem ignora diariamente. Somente ele pode ajudá-lo a decifrar conversas de redes sociais que indicam minimamente a dinâmica prévia entre Jamie e a vítima e o que pode ter levado ao crime. Mas nem tudo se simplifica ao bullying.  

No terceiro episódio, as coisas, embora ainda nebulosas, começam a se expandir. Acompanhamos uma sessão de terapia de Jamie com a psiquiatra Briony Ariston (Erin Doherty), e é nesse momento que conseguimos vislumbrar quem ele realmente é – um garoto franzino, com baixa autoestima, que encontra no discurso do movimento incel um respaldo para rebaixar mulheres e, assim, sentir-se menos inferior àquelas que constantemente o rejeitam. Mas nada é tão simplista. Mesmo sendo inteligente, Jamie precisa das redes sociais para se sentir visto, ainda que isso o exponha a novas intimidações. Seu humor oscila como um mar revolto, que ora se acalma, ora se agita violentamente, refletindo a instabilidade emocional proporcionada por uma era em que a internet molda os cérebros para uma constante vulnerabilidade psicológica, gerando crises de ansiedade desconcertantes.  

Por fim, o último episódio retrata a família no primeiro aniversário de Eddie desde que Jamie foi preso, poucos dias antes do julgamento. As fofocas da vizinhança, os garotos que picham a van de trabalho de Eddie, o atendente da loja que reconhece o pai do menino acusado de homicídio — tudo isso força a família a se equilibrar no fio tênue entre o desespero e a determinação de encarar a situação com coragem e cabeça erguida. Cada diálogo é cortante, atinge o espectador direto nas vísceras. “Adolescência” é uma orquestra minuciosa. Cada linha de diálogo, cada movimento de câmera, cada expressão captada em close contribui para uma experiência visceral e imersiva.  

Filme: Adolescência
Diretor: Stephen Graham e Jack Thorne
Ano: 2025
Gênero: Crime/Drama/Thriller
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.