O filme com Keanu Reeves na Netflix que você vai querer ver e rever no mesmo dia Divulgação / Summit Entertainment

O filme com Keanu Reeves na Netflix que você vai querer ver e rever no mesmo dia

Nos últimos anos, poucos filmes de ação conquistaram um impacto tão duradouro quanto “John Wick — De Volta ao Jogo”. O longa-metragem, lançado em 2014, revitalizou um gênero que parecia esgotado e apresentou ao público um dos anti-heróis mais icônicos do cinema moderno. A premissa pode parecer familiar: um ex-assassino que, após tentar abandonar sua vida de violência, é forçado a retornar para uma última vingança. No entanto, a execução desse enredo é o que transforma “John Wick” em algo verdadeiramente excepcional. A fusão entre uma coreografia de ação deslumbrante, visuais estilizados e a interpretação magnética de Keanu Reeves resulta em uma experiência cinematográfica visceral e memorável.

O protagonista é John Wick, um lendário assassino de aluguel que havia se aposentado para viver ao lado da mulher que amava. No entanto, sua tentativa de levar uma vida pacífica desmorona quando ela descobre uma doença terminal e morre, deixando para ele um último presente póstumo: um filhote de beagle chamado Daisy, uma tentativa de ajudá-lo a encontrar um motivo para seguir em frente. Mas a tragédia se intensifica quando Iosef Tarasov (Alfie Allen), filho do chefão da máfia russa Viggo Tarasov (Michael Nyqvist), cruza o caminho de Wick. Em um encontro aparentemente banal em um posto de gasolina, o jovem criminoso se encanta pelo Mustang 1969 do ex-assassino e, ao ter sua oferta de compra recusada, resolve roubá-lo. Durante a invasão à casa de Wick, além de roubar o carro, os bandidos cometem um erro fatal: matam o cachorro Daisy. Esse ato, mais do que um simples crime, se torna o estopim de uma vingança brutal e implacável.

A resposta de John Wick não demora. Em poucos minutos de filme, ele desenterra seu arsenal e retorna à sua antiga vida, determinado a eliminar cada um dos responsáveis pela tragédia que o atingiu. Viggo Tarasov, ciente da fúria que despertou, tenta conter o estrago e convencer Wick a esquecer o ocorrido. No entanto, há coisas que não podem ser esquecidas — e, para Wick, esse é um acerto de contas que não pode ser evitado. O filme então se transforma em uma sequência frenética de combates milimetricamente coreografados, com Wick eliminando, um a um, todos que se colocam em seu caminho.

O que diferencia “John Wick” de tantos outros filmes do gênero é a forma como ele trata a ação como uma arte. Sob a direção de Chad Stahelski e David Leitch — ambos veteranos do mundo dos dublês — o longa resgata um estilo de filmagem raro no cinema contemporâneo. Em vez dos cortes frenéticos e do tremor de câmera que se tornaram padrão nos filmes de ação modernos, “John Wick” permite que cada golpe seja visto em sua plenitude. Keanu Reeves, que executou cerca de 90% das cenas de ação sem o uso de dublês, passou meses treinando jiu-jitsu brasileiro, táticas de combate com armas e perseguições em alta velocidade para garantir autenticidade ao personagem. Essa dedicação resulta em sequências impressionantes, onde a fisicalidade e a precisão dos movimentos elevam as cenas de luta a um nível quase coreográfico.

Além da ação, o filme se destaca por sua estética cuidadosamente elaborada. A cinematografia de Jonathan Sela emprega tons de néon e uma iluminação contrastante, criando uma atmosfera que mistura o noir clássico com um estilo moderno e sofisticado. No início, as cenas são dominadas por cores frias e desaturadas, refletindo o luto e a melancolia do protagonista. À medida que Wick mergulha novamente no submundo do crime, as cores ganham intensidade — o verde profundo de um bar clandestino, o vermelho vibrante da camisa de um mafioso sob um terno impecável —, reforçando visualmente sua jornada de retorno à violência.

Outro elemento fascinante do filme é o universo que constrói ao redor de John Wick. Mais do que uma simples história de vingança, o longa apresenta um submundo paralelo, com suas próprias regras, códigos de conduta e até mesmo uma economia própria. O hotel The Continental, por exemplo, serve como um refúgio neutro para assassinos de elite, onde matar alguém é uma ofensa passível de expulsão. Essa combinação de violência brutal com um código de honra quase aristocrático adiciona uma camada de sofisticação rara ao gênero. Os assassinos utilizam moedas de ouro como forma de pagamento, evocando uma mitologia que mistura o real com o lendário. Esse universo, ao mesmo tempo estilizado e plausível, contribui para a aura mítica que cerca John Wick, transformando-o em algo além de um mero matador — ele é uma lenda.

A performance de Keanu Reeves é o fio condutor que mantém esse mundo crível. Seu John Wick é simultaneamente implacável e melancólico, um homem que luta não apenas contra inimigos, mas contra seu próprio destino. Reeves traz ao personagem uma presença magnética, equilibrando momentos de frieza absoluta com lapsos de humanidade. Há um traço quase zen na forma como ele encara a destruição ao seu redor, tornando-o ainda mais intrigante. Mesmo nos momentos mais violentos, há uma elegância em seus movimentos e uma precisão que reforça a ideia de que John Wick não é apenas um assassino, mas um artista da morte.

O impacto de “John Wick” foi imediato. Com um orçamento modesto e sem grandes expectativas comerciais, o filme rapidamente se tornou um sucesso de crítica e público, impulsionado pelo boca a boca e pela qualidade inegável de sua execução. Mais do que um simples thriller de ação, ele redefiniu o gênero e estabeleceu um novo padrão para coreografia de lutas e direção de cenas de combate. Além disso, revitalizou a carreira de Keanu Reeves, colocando-o novamente no centro do cinema de ação e consolidando-o como um dos grandes ícones do gênero.

Se o cinema de ação estava precisando de um novo fôlego, “John Wick” foi a faísca que reacendeu essa chama. Ao combinar uma narrativa simples, mas eficiente, com uma execução técnica impecável, o filme provou que a ação pode ser tão sofisticada e impactante quanto qualquer outro gênero cinematográfico. E, acima de tudo, “John Wick” nos lembrou de uma verdade inescapável: há certas linhas que não devem ser cruzadas. E matar o cachorro de um homem como John Wick é, sem dúvida, uma delas.

Filme: John Wick — De Volta ao Jogo
Diretor: Chad Stahelski
Ano: 2014
Gênero: Ação/Policial/Suspense
Avaliação: 10/10 1 1
★★★★★★★★★★