Um clássico de ação e um dos melhores filmes policiais de todos os tempos acaba de chegar à Netflix Divulgação / Paramount Pictures

Um clássico de ação e um dos melhores filmes policiais de todos os tempos acaba de chegar à Netflix

Foi graças a um presidiário que Eddie Murphy chegou a “Um Tira da Pesada” (1984-2024), um daqueles fenômenos que só mesmo os anos 1980 poderiam ter produzido. Reggie Hammond, um condenado que cumpriu trinta meses por roubo e ainda tem mais um semestre de grade até que o Estado considere paga sua dívida, parece o único capaz de pôr freio numa gangue de assassinos de policiais, e por isso deixa a cadeia pelo intervalo expresso no título desse filme, na esperança das autoridades que sua ajuda realmente venha a ter alguma serventia. 

“48 Horas” é mais um dos ótimos besteiróis que prendiam o espectador na poltrona das salas de exibição há quarenta anos ao juntar em doses quase cartesianas tiradas de certeira incorreção política, carros que despencam por avenidas sinuosas e revólveres cuspindo chumbo grosso, tudo embalado por uma trilha sonora que custa a sair da cabeça. Essa mágica acontece pelas mãos de Walter Hill, um mestre em fazer de histórias limitadas sucessos de bilheteria, e, neste caso, as coisas ficam bem mais fáceis quando pode-se contar com o trabalho caótico de um ator disciplinado.

Reggie é procurado por Jack Cates, o detetive loiro, alto e de maus bofes vivido por Nick Nolte, cuja carreira estará por na mira se não puser no xadrez os tais criminosos que caçam tiras pelas ruas de São Francisco. Murphy só vai aparecer no meio do segundo ato, e enquanto isso Nolte  dá conta do recado em cenas na repartição pública na qual cumpre expediente discutindo com os colegas e o chefe, Haden, de Frank McRae (1941-2021), ou atendendo a telefonemas da namorada, Elaine, a personagem de Annette O’Toole.

Hill e os corroteiristas Larry Gross e Roger Spottiswoode preenchem o enredo com sequências por meio das quais a audiência também participa da trama — mas nem por isso deixa de perguntar quando Murphy entrará em cena. Quando a hora chega afinal, Reggie leva Cates a incursões ao Vroman’s, uma boate no Harlem onde negros bebem cerveja de garrafa e esbaldam-se ao excelente som da The BusBoys, que encaixa, claro, “The Boys Are Back in Town” (1976), e James Remar, o matador de policiais encarnado por Albert Ganz se esconde.

“48 Horas” vibra no diapasão das diferenças e, principalmente, dos insólitos pontos de contato e entre os dois homens, juntos até o fim numa aventura que termina melancólica, mas com dignidade para ambos. A certa altura, é difícil resolver quem se sai melhor, se Murphy ou Nolte, certeza de que, do outro lado da tela, algum sujeito bastante sentimental riu e até deixou escapar uma furtiva lágrima de pura e ingênua nostalgia.

Filme: 48 Horas
Diretor: Walter Hill
Ano: 1982
Gênero: Ação/Comédia
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.