Entre os filmes de ação que se aventuram a equilibrar intensidade visceral e personagens que realmente envolvem o público, poucos atingem o êxito que “Entre Montanhas” demonstra. Sem se limitar a uma sucessão de sequências explosivas, a narrativa se desdobra com uma complexidade que remete ao suspense conspiratório de “Arquivo X” e ao sobrenatural palpável de “Stranger Things”. No centro da trama, forças clandestinas colidem com indivíduos movidos por convicções pessoais, resultando em uma história que sustenta sua energia sem sacrificar a coesão. O diferencial do longa está justamente na forma como conduz esse embate: sem desperdícios narrativos, cada cena contribui para aprofundar os mistérios e a tensão crescente.
O fio condutor que mantém “Entre Montanhas” sempre em movimento é sua dupla de protagonistas. Miles Teller e Anya Taylor-Joy não apenas interpretam seus papéis com intensidade, mas dão dinâmica entre seus personagens e uma autenticidade que amplifica a carga emocional da narrativa. Não há um mero encaixe funcional entre eles; a interação se constrói organicamente, elevando tanto os momentos de alívio quanto os de tensão máxima. E se a presença de Sigourney Weaver em um papel coadjuvante adiciona peso ao elenco, o roteiro de Zach Dean potencializa esse talento coletivo ao equilibrar com precisão elementos de humor, terror e drama. Nada surge de maneira artificial ou forçada — há uma fluidez rara em histórias que mesclam tantos gêneros distintos.
O filme evita armadilhas comuns ao gênero ao se recusar a operar no piloto automático. Não se trata de um espetáculo pirotécnico sem substância, tampouco de um thriller que sacrifica sua identidade para se encaixar em fórmulas conhecidas. A ação aqui não é uma distração, mas um meio de aprofundar personagens e ampliar a imersão do espectador. Cada reviravolta surge no tempo certo, ampliando o mistério e reforçando a sensação de que há muito mais em jogo do que aparenta. “Entre Montanhas” compreende que um grande filme de ação precisa de um coração pulsante por trás da adrenalina.
Fica a impressão de que, apesar de suas influências evidentes, o longa constrói uma identidade própria, marcante e imersiva. Ele se apropria de elementos já conhecidos, mas os rearranja de maneira original, dando à audiência não apenas um entretenimento de qualidade, mas um convite para refletir sobre os limites entre controle, acaso e sobrevivência. Se há algo de previsível em “Entre Montanhas”, é apenas a certeza de que ele permanecerá na memória muito além de seus créditos finais.
★★★★★★★★★★