Entre o tangível e o intangível, “E Se Fosse Verdade” constrói uma narrativa que subverte expectativas ao unir romance e sobrenatural de maneira envolvente. O filme, estrelado por Reese Witherspoon e Mark Ruffalo, se distancia de outras versões do gênero ao utilizar elementos fantásticos como ferramenta para explorar temas de perda, conexão e redenção emocional. A história, que poderia se limitar a um clichê romântico, se torna um estudo delicado sobre como o amor pode desafiar as barreiras do tempo e da existência.
Elizabeth Masterson (Witherspoon) é uma médica dedicada, cuja vida gira em torno do trabalho até que um acidente abrupto a coloca em coma. Paralelamente, David Abbott (Ruffalo), um arquiteto paisagista preso ao luto, aluga o apartamento onde Elizabeth vivia, buscando um refúgio para reorganizar sua própria existência. O que ele não espera é que a presença da antiga moradora persista — não em registros ou lembranças, mas como um espírito que não compreende sua própria condição. O embate inicial entre os dois, marcado por incredulidade e choque, evolui gradualmente para um vínculo inesperado, que desafia as fronteiras entre vida e morte.
A química entre os protagonistas é um dos pilares que sustentam o filme. Ruffalo traz para David uma melancolia contida, equilibrando seu ceticismo inicial com a vulnerabilidade de um homem que se permitiu acreditar no improvável. Witherspoon, por sua vez, entrega uma Elizabeth cuja transformação emocional se torna tangível, oscilando entre a frustração de não ter controle sobre o próprio destino e a esperança crescente de que ainda há algo a ser salvo. Essa dinâmica não apenas conduz a trama, mas também a fortalece, garantindo que o envolvimento do espectador transcenda o romantismo superficial.
A direção de Mark Waters não apenas sustenta o tom leve e espirituoso do roteiro, mas também emprega a cidade de São Francisco como um elemento narrativo. As paisagens urbanas, especialmente as vistas da Ponte Golden Gate, funcionam como metáforas visuais para a transição entre dois mundos. A escolha de locações, aliada à cinematografia suave e iluminada, reforça o caráter quase onírico da história, tornando a interação entre os protagonistas ainda mais verossímil.
O roteiro, embora alinhado às estruturas tradicionais da comédia romântica, introduz elementos que ampliam sua profundidade. Em meio às cenas de humor e romance, existe uma discussão sutil sobre segundas chances e a efemeridade da vida. O papel de personagens secundários, como Darryl (Jon Heder), um excêntrico livreiro especializado em ocultismo, e Jack (Donal Logue), amigo cético de David, contribui para essa expansão temática, oferecendo perspectivas distintas sobre a história sem diluir seu impacto emocional.
O desfecho, previsível dentro da proposta do filme, não compromete sua qualidade. Pelo contrário, ele entrega a resolução emocional necessária, enfatizando a ideia de que, por mais improvável que algo pareça, a crença no impossível às vezes é tudo o que se precisa. “E Se Fosse Verdade” pode não revolucionar o gênero, mas sua habilidade em equilibrar leveza e emoção o torna um filme memorável, capaz de encantar tanto os céticos quanto os românticos convictos.
★★★★★★★★★★