A franquia “Velozes e Furiosos”, agora está mais próxima de um espetáculo visual do que de uma narrativa coesa. O filme continua sua ascensão de absurdos a cada novo filme, culminando em “Velozes e Furiosos 10”. O tom da série, há muito desapegado da lógica ou da plausibilidade, oferece ao público uma experiência que beira o surreal. O enredo, como já se tornou tradição, mistura cenas de ação exageradas com personagens imbatíveis e situações que desafiam qualquer compreensão de física ou realidade. Esse estilo é a marca registrada da franquia desde sua transição de simples corridas de rua para um show de ação com proporções globais. No entanto, é justamente essa quebra com a verossimilhança que permite a diversão descompromissada. Se a lógica não encontra espaço para se manifestar, o entretenimento visual — recheado de efeitos especiais e uma trilha sonora energizante — conquista o espectador que busca apenas adrenalina.
Apesar dos altos e baixos de sua narrativa, a performance de Jason Momoa como Dante é o que salva “Velozes e Furiosos 10” da falha total. Em meio à avalanche de absurdos, seu personagem se destaca como uma explosão de energia, irreverência e carisma. Momoa consegue, com sua mistura única de humor e intensidade, transformar o vilão em uma figura fascinante, trazendo à tona o que de mais cativante a franquia tem a oferecer. Sua atuação não só diverte, como também cria uma dinâmica envolvente com os outros personagens, quebrando a monotonia de um roteiro falho. O seu Dante, com uma performance marcante, faz com que o filme resista à tentação de cair no vazio das histórias previsíveis e sem emoção. A química de Momoa com seus companheiros de cena, inclusive em meio a tramas e subtramas subaproveitadas, é o que mantém o público engajado, fazendo com que até os momentos mais insustentáveis pareçam, ao menos, toleráveis.
No entanto, o que mais decepciona em “Velozes e Furiosos 10” é a tentativa frustrada de desenvolver personagens e arcos dramáticos que não vingam. A introdução de Brie Larson como uma adição ao elenco, por exemplo, é um desperdício de potencial. Seu papel, por mais promissor que fosse, acaba por ser raso, não aproveitando a profundidade que sua presença poderia conferir à história. O mesmo ocorre com várias outras partes do roteiro, que falham em criar conexões significativas entre os personagens ou nas ações que deveriam ser chave para a trama. Essa falta de desenvolvimento narrativo se junta ao absurdo das cenas de ação para criar uma história que, embora cativante em momentos pontuais, nunca se solidifica como algo memorável ou digno de reflexão.
Ao longo dos filmes, a franquia foi se distanciando de suas raízes, transformando-se em algo que mais se assemelha a uma produção do universo cinematográfico da Marvel, com heróis capazes de enfrentar cataclismos globais como se fossem super-humanos. Essa evolução, ou melhor, transmutação, para uma narrativa onde os personagens desafiam a gravidade e a lógica, é, por um lado, fascinante e, por outro, desconcertante. No entanto, a fórmula funciona para aqueles que não buscam complexidade ou profundidade, mas apenas uma fuga temporária da realidade. Em “Velozes e Furiosos 10”, os exageros são celebrados e o espectador é convidado a deixar de lado qualquer questionamento crítico em nome do espetáculo. O filme, em sua essência, é um exemplo clássico do blockbuster descompromissado, oferecendo uma diversão escapista que, embora repleta de falhas, consegue ainda manter os fãs cativados.
A conclusão abrupta do filme, característica de uma franquia que claramente visa uma continuidade incessante, deixa no ar uma sensação de insatisfação, ao mesmo tempo que gera expectativa para o próximo capítulo. Se, por um lado, o filme repete os erros dos anteriores, com uma trama que parece mais uma sequência de cenas desencontradas, por outro, ele consegue entregar o que muitos buscam: um entretenimento sem grandes exigências, onde o espectador pode simplesmente se deixar levar pela ação. Se isso significar mais momentos de pura diversão com Dante e mais desvarios em cena, talvez a jornada, por mais absurda que seja, mereça ser acompanhada até o fim.
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