Optar pelo confronto armado jamais é uma escolha trivial, mas, em muitas circunstâncias, torna-se a única alternativa diante da perspectiva da submissão. Winston Churchill (1874-1965), primeiro-ministro britânico durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), sustentava que a renúncia a lutar por causas justas impõe sobre um povo o fardo da vergonha. A guerra exerce um fascínio paradoxal: ao mesmo tempo em que escancara o que há de mais brutal na humanidade, serve de palco para feitos de bravura que imortalizam homens e mulheres na História. O heroísmo, muitas vezes, emerge da violência, e é nesse embate que se forjam as figuras lendárias dos conflitos armados.
Nenhum outro episódio bélico foi tão dissecado quanto a Segunda Guerra, um verdadeiro manancial de narrativas para a sétima arte. “T-34 — O Monstro de Metal”, dirigido pelo russo Aleksey Sidorov, mergulha nesse imaginário ao recriar, com evidente exagero patriótico, a resistência soviética contra o avanço nazista. O enredo, construído sobre uma base fantasiosa, assume traços de propaganda ao retratar um batalhão do Exército Vermelho surpreendido na fronteira ucraniana e feito prisioneiro pela Schutzstaffel, a temida SS de Hitler. A missão imposta aos cativos? Restaurar os poderosos T-34, veículos blindados que representavam a vanguarda da engenharia militar da União Soviética. Mas, como se pode prever, os planos alemães não transcorrem conforme o esperado.
A película abre com uma sequência de ação vertiginosa. Dois soldados soviéticos, deslocando-se em um jipe por território hostil, deparam-se com um tanque alemão e são lançados em uma perseguição frenética. O espectador é imediatamente arrastado para o calor do combate, acompanhando a fuga desesperada enquanto projéteis cruzam o cenário com precisão cirúrgica, impulsionados por uma computação gráfica que transforma cada impacto em um espetáculo visual. A tensão cresce exponencialmente até o inevitável desenlace: os protagonistas, antes ilesos, veem-se novamente à mercê da SS.
No inverno de 1941, enquanto o conflito devasta a Europa, a população civil conhece a guerra apenas através das imagens filtradas pelos cinejornais. Mas nos campos de batalha, a realidade é outra: o tenente Nikolaî Ivushkin e seu subordinado, Kobzarenko, são combatentes reais, movidos pelo espírito patriótico e forjados na adversidade. Alexander Petrov e Artur Sopelnik interpretam esses homens com convicção, dando corpo a um heroísmo que, embora ressoe com autenticidade, é amplificado por um discurso nacionalista que soa destoante no cenário político contemporâneo. Sob a sombra do governo de Vladimir Putin, que reinventa o passado com propósitos próprios, a exaltação desmedida do poderio soviético ganha contornos questionáveis.
Ainda assim, “T-34 — O Monstro de Metal” se destaca pela energia bruta de suas sequências de batalha, evocando, com espírito pop, a intensidade visceral de “Agonia e Glória” (1980), de Samuel Fuller (1912-1997). O espetáculo visual e a dinâmica dos confrontos garantem um ritmo eletrizante, mas o filme não escapa da armadilha de sua própria grandiloquência. Entre o deslumbre estético e a glorificação ideológica, a narrativa oscila entre o entretenimento e a reconstrução enviesada da História, deixando ao espectador a difícil tarefa de distinguir uma coisa da outra.
★★★★★★★★★★