Seu coração merece um intervalo: 104 minutos na Netflix que abraçam a alma melhor do que um abraço apertado — experimente Divulgação / Netflix

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Se encontrar um parceiro para a vida toda se tornou um desafio cada vez mais árduo, talvez seja o caso de abandonar táticas mirabolantes e simplesmente deixar as coisas fluírem, sem grandes expectativas. O amor, afinal, é um visitante imprevisível, alheio a protocolos, e, em algumas circunstâncias, uma situação inicialmente banal pode se transformar em algo sério. Essa é a engrenagem que impulsiona “Amor com Data Marcada”, uma comédia romântica que não apenas se agarra a clichês do gênero, mas os amplifica em uma narrativa que jamais se arrisca a fugir do previsível.

Curiosamente, a produção dirigida por John Whitesell conta com uma protagonista que carrega um sobrenome de peso na história das romcoms, mas nem essa conexão simbólica a salva do marasmo. Longe do carisma inquestionável de Julia Roberts em “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999), de Roger Michell, ou “O Casamento do Meu Melhor Amigo” (1997), de P. J. Hogan, sua sobrinha, Emma Roberts, se esforça sem conseguir preencher as lacunas de um roteiro que lhe dá muito pouco com o que trabalhar. Mas, sejamos justos, a responsabilidade pelo resultado insípido vai bem além dela.

Filmes que resistem ao tempo têm em comum a capacidade de desnudar os aspectos universais da condição humana, estabelecendo conexões reais entre personagens e público. Ninguém esperava que Whitesell repetisse o brilho de Michell, Hogan ou mesmo de Garry Marshall em “Uma Linda Mulher” (1990), no qual a personagem vivida por Julia Roberts se inscreve definitivamente na cultura pop, mas a superficialidade narrativa de “Amor com Data Marcada” surpreende pela falta de ambição.

Sloane Benson, já na casa dos trinta, permanece solteira, um estado que sua mãe, Elaine, considera um problema digno de preocupação. Durante a ceia de Natal, onde todos os familiares estão devidamente acompanhados, o jantar se desenrolaria sem incidentes se Elaine não insistisse em transformar a ausência de um parceiro na vida da filha em um assunto central. O roteiro de Tiffany Paulsen se apega a essa dinâmica desconfortável de maneira repetitiva, sem encontrar um meio de torná-la minimamente engenhosa. Paralelamente, Jackson, um jogador de golfe com o hábito de aceitar convites para festas de garotas que mal conhece, se vê preso a uma sucessão de mal-entendidos sentimentais e participações forçadas em jantares familiares que envolvem, entre outras provções, vestir suéteres temáticos constrangedores.

O acaso os coloca lado a lado em uma loja de departamentos, trocando presentes indesejados após o Natal, e é a partir desse encontro que a história se arrasta em um percurso de previsibilidade crescente. A estrutura do longa se ancora na enumeração exaustiva de feriados em que Sloane e Jackson decidem passar juntos, o que inclui desde os tradicionais Natal e Dia de Ação de Graças até datas como o Cinco de Mayo.

Se no início Roberts e Bracey ainda conseguem sustentar alguma centelha de dinamismo, a insistência na repetição dos eventos, somada à inclusão de coadjuvantes sem função narrativa, esgota qualquer resquício de química entre os protagonistas. Kristin Chenoweth, por exemplo, aparece constantemente como Susan, tia de Sloane, mas sua presença se resume a piadas sem timing e situações deslocadas. A essa altura, a ligação de Emma com Julia Roberts já não tem qualquer significado além da mera curiosidade genealógica.

Filme: Amor com Data Marcada
Diretor: John Whitesell
Ano: 2020
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★