Três veteranos na segurança de um museu, Roger (Christopher Walken), George (William H. Macy) e Charles (Morgan Freeman), passaram anos protegendo uma coleção de arte pela qual desenvolveram um apego quase religioso. A rotina metódica desses guardas é subitamente ameaçada quando a administração decide substituir as obras clássicas por uma nova exposição de arte moderna, enviando suas peças favoritas para museus na Europa. Diante da perspectiva de perder o que consideram parte essencial de suas vidas, os três concebem um plano audacioso: trocar as obras originais por réplicas, garantindo que seus tesouros permaneçam ao alcance de seus olhos e corações. “Um Crime Nada Perfeito”, dirigido por Peter Hewitt, constrói sua narrativa em torno desse dilema nostálgico, transformando um crime em uma jornada emocionalmente cômica. O filme se apoia na força e no carisma de seu elenco, o que dá leveza e humor a uma história sobre apego e resistência à mudança.
Diferente das comédias de assalto convencionais, onde a tensão e o planejamento detalhado dominam a trama, “Um Crime Nada Perfeito” adota um tom despretensioso e afetuoso. Seu humor não nasce de grandes reviravoltas ou planos complicados, mas da interação entre personagens carismáticos que carregam em si um misto de excentricidade e melancolia. Christopher Walken encarna Roger com uma vulnerabilidade contida, um homem que se sente deslocado tanto em casa, dominado por uma esposa autoritária, quanto no próprio museu, onde sua conexão com uma pintura se tornou um refúgio silencioso. William H. Macy, por sua vez, se destaca ao compor George como um indivíduo cujo fascínio por uma estátua de guerreiro ultrapassa os limites do racional, culminando em uma cena memorável onde ele, completamente nu, compartilha um momento de devoção inusitada à peça. Já Morgan Freeman, geralmente associado a papéis de grande autoridade, surpreende ao trazer uma interpretação mais introspectiva para Charles, cuja sensibilidade contrasta com a comicidade dos demais.
O que poderia ser apenas uma comédia convencional de roubo se revela, na verdade, uma análise bem-humorada sobre a forma como a arte transcende sua condição material e se torna uma âncora emocional. Os protagonistas não são meros seguranças frustrados com a mudança de acervo; são homens que projetam nesses quadros e esculturas significados profundos, construindo suas identidades a partir dessas conexões silenciosas. Há uma ironia sutil no fato de que, para eles, a verdadeira transgressão não está no roubo, mas na decisão institucional de remover essas peças de suas vidas. O plano, por mais ingênuo e caótico que pareça, não visa lucro ou status, mas a preservação de um vínculo quase sagrado.
Apesar da qualidade de sua execução e do talento envolvido, “Um Crime Nada Perfeito” teve sua trajetória comprometida por problemas de distribuição. Originalmente planejado para um lançamento nos cinemas, o filme foi afetado pela falência da Yari Film Group, levando a uma distribuição direta para DVD. Essa mudança prejudicou sua visibilidade, resultando em uma recepção modesta e em uma divulgação que falhou em comunicar sua verdadeira essência ao público. O título alternativo, “The Heist” (“O Assalto”), por exemplo, pode ter induzido a expectativas equivocadas, sugerindo um thriller de assalto quando, na realidade, a produção se aproxima mais do humor discreto de cineastas como Woody Allen.
Ainda que não tenha recebido a atenção que poderia, “Um Crime Nada Perfeito” é um filme que encontra sua força na delicadeza de seus personagens e na forma como aborda o apego à arte de maneira inesperada. É uma comédia que, sob sua aparente simplicidade, revela camadas de humanidade, explorando o impacto que objetos artísticos podem ter sobre a psique de quem os observa diariamente. Para aqueles que o descobrem, a experiência é recompensadora: um convite a rir da absurdidade da vida e, ao mesmo tempo, refletir sobre o que realmente nos conecta ao mundo. Mais do que um filme sobre um roubo, é um retrato sensível de três homens tentando preservar um pedaço de si mesmos em meio a um cenário que insiste em mudar.
★★★★★★★★★★