500 milhões de pessoas foram aos cinemas assistir esse filme, que faturou nada menos que 8,5 bilhões em bilheteria e está no Prime Video Divulgação / Warner Bros.

500 milhões de pessoas foram aos cinemas assistir esse filme, que faturou nada menos que 8,5 bilhões em bilheteria e está no Prime Video

Desde seu lançamento, “Barbie” tem sido alvo de discussões fervorosas, dividindo opiniões que vão da exaltação irrestrita à frustração declarada. Comercializado como uma sátira, o longa aposta no exagero para evidenciar as contradições sociais, especialmente no que se refere às relações de gênero. Seu discurso sobre a estrutura patriarcal incomodou parte do público, que o percebeu como um ataque direto aos homens. No entanto, essa interpretação reduz sua proposta a uma visão simplista. O filme não propõe uma troca de domínio entre gêneros, mas sim uma análise das amarras impostas por um sistema que restringe tanto mulheres quanto homens. A caracterização de Ken como uma figura secundária em Barbielândia é uma inversão irônica que espelha a posição marginalizada frequentemente atribuída às mulheres no mundo real.

“Barbie” impressiona com sua direção de arte detalhista, cenários exuberantes e figurinos que remetem fielmente ao imaginário da boneca. Margot Robbie incorpora a essência da protagonista com precisão, enquanto Ryan Gosling transita com habilidade entre a ingenuidade e o desalento de um personagem que descobre a própria insignificância. O roteiro acerta ao explorar momentos de introspecção, seja na crise existencial de Barbie ou no despertar de Ken para uma identidade que não se define apenas pela relação com ela. Contudo, a narrativa perde impacto ao adotar um tom excessivamente explicativo no terço final, enfraquecendo a força de sua mensagem inicial. O discurso feminista, que no início se constrói de forma instigante, gradualmente se torna didático a ponto de comprometer sua potência simbólica.

A crítica social do longa se mostra mais eficiente quando equilibra humor e sagacidade, conduzindo reflexões sem subestimar o espectador. No entanto, conforme a trama avança, a sutileza dá lugar a uma abordagem mais direta, por vezes caricatural. Algumas sequências exageram na construção de situações que, em vez de ampliar o debate, parecem reforçar um retrato binário das relações de gênero. Um exemplo é a cena em que Barbie enfrenta assédio no mundo real, um episódio que, ainda que verossímil, é resolvido de maneira abrupta, sem maior integração à trama.

Apesar de sua inventividade e do impacto que provoca, “Barbie” não escapa das contradições. Seu discurso de emancipação feminina convive com a realidade de ser um produto planejado para reforçar a marca da Mattel. A tensão entre a mensagem progressista e os interesses comerciais é evidente: enquanto busca subverter padrões, o filme também os perpetua, promovendo a imagem da boneca que, por décadas, consolidou ideais inalcançáveis.

No conjunto, “Barbie” oferece um espetáculo visual impressionante e que instiga discussões relevantes, mas tropeça ao diluir sua complexidade em determinadas passagens. Para quem busca uma experiência vibrante e cheia de referências culturais, o filme é divertido e envolvente. Mas para aqueles que esperavam uma abordagem mais nuançada e inovadora das questões de gênero, a narrativa pode deixar uma impressão ambígua: um projeto ambicioso que, apesar de seus acertos, por vezes opta por saídas fáceis.

Filme: Barbie
Diretor: Greta Gerwig
Ano: 2023
Gênero: Aventura/Comédia/Drama/Fantasia
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★