Esqueça a rua! Você pode sair e se arrepender ou ficar em casa para assistir a um filmaço que acaba de chegar à Netflix Divulgação / Synapse Distribution

Esqueça a rua! Você pode sair e se arrepender ou ficar em casa para assistir a um filmaço que acaba de chegar à Netflix

Histórias sobre indivíduos que desfilam na corda bamba da existência, na qual permaneceriam para sempre, até que sofrem um baque ainda maior do que aqueles a que estavam habituados nunca saem da mira do espectador. No caso de “A Última Parada do Arizona”, a máxima do “quanto pior, melhor” impõe-se como um rochedo diante do mar, e Francis Galluppi consegue operar milagre com um orçamento modesto.

Ainda uma promessa para a indústria, Galluppi, 36 anos, já imprimiu uma marca bastante visível em seus trabalhos, qual seja, histórias que amalgamam violência e algum mistério, sem esquecer de temperar tudo com música, outra área de sua formação profissional. Seu roteiro bate na tecla de clichês a exemplo de fortunas de procedência duvidosa que viram a cabeça de homens comuns, mas que parecem especialmente sujeitos a trapaças do destino. Uma ideia que qualquer um capta sem esforço.

No condado de Yuma, no extremo sudoeste do Arizona, clientes querem abastecer seus carros no posto de combustíveis de Vernon, o gigante gentil interpretado por Faizon Love. A gasolina, porém, acabou e os motoristas então lotam o restaurante adjacente às bombas, esperando que a situação se normalize. O ar-condicionado central não funciona. Os ânimos vão ficando exaltados quando um personagem chamado apenas de O Vendedor de Facas chega àquele lugar inóspito, querendo na verdade ir para Calabasas, Califórnia, visitar a filha, que mora com a mãe e o segundo dela.

O diretor-roteirista edulcora a tensão voltando-se para Charlotte, a garçonete de Jocelin Donahue, que nunca deixa de oferecer uma fatia de torta de ruibarbo à freguesia, que contenta-se com biscoitos embebidos em calda. Esposa do xerife Charlie, personagem de Michael Abbott, Charlotte ignora a rudeza dos comensais e entabula conversa com O Vendedor de Facas, até que os dois são interrompidos por dois tipos mal-encarados.

Beau e Travis acabam de perpetrar um assalto a banco que a imprensa cobre em todos os noticiários, e essa é a senha para que Galluppi conduza seu filme para uma comédia meio nonsense, sem prejuízo do thriller que se ergue bem ao gosto do americano médio, conservando alguma sofisticação. Donahue e Jim Cummings rivalizam com Richard Brake e Nicholas Logan, os dois bandoleiros que agudizam o caos daquele inferno tão particular, onde cabem ainda Miles e Sybil, os novos candidatos a Bonnie e Clyde encarnados por Ryan Masson e Sierra McCormick.

No terço final, “A Última Parada do Arizona” ganha cores à “Onde os Fracos Não Têm Vez” (2007), dos irmãos Ethan e Joel Coen, o que fez com que o diretor caísse nas graças de Sam Raimi, diretor e produtor de arrasa-quarteirões do terror a exemplo de “Não Se Mexa” (2024), dirigido por Adam Schindler e Brian Netto, e “A Morte do Demônio” (2013), levado à tela por Fede Alvarez, outro enfant terrible desse gênero. A propósito, Galluppi já foi instado por Raimi a comandar o próximo longa da franquia, com o qual terá a chance de soltar todos os bichos que sua fecunda imaginação quiser, dispondo de uma montanha de dinheiro, numa trajetória semelhante à do uruguaio Alvarez. Por ora, podemos dizer que sua estrela sobe.

Filme: A Última Parada do Arizona
Diretor: Francis Galluppi
Ano: 2023
Gênero: Crime/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.