A comédia romântica perfeita para assistir abraçado… ou sozinho com um balde de pipoca, no Prime Video Divulgação / Amazon Prime Video

A comédia romântica perfeita para assistir abraçado… ou sozinho com um balde de pipoca, no Prime Video

A existência humana transcorre como um intervalo fugaz entre o primeiro e o último suspiro, período no qual cada indivíduo se empenha em decifrar questões que lhe escapam, ainda que persista na ilusão de que, em algum momento, terá alcançado as respostas. Ao longo dessa busca, que se desenrola entre a obstinação e a hesitação, cada um carrega sua própria carga, apoiando-se ora em ombros firmes, ora em mãos trêmulas, sem jamais dissipar a inquietação. O medo e a esperança, antes opostos, acabam se confundindo em uma mesma vertigem. O afeto, por si só, não basta. Borboletas esvoaçam em pares, atraídas sem compreenderem o sentido desse enlace, alheias até mesmo ao fato de que são borboletas e não apenas parte do delírio de um sonhador distante, que as observa sem que percebam sua própria efemeridade.

É desse desencontro constante entre expectativas e realidade que se desenha “Retiro do Amor”, comédia romântica que encontra nos sonhos — aqueles que insistem em permanecer vivos e os que mal resistem à erosão do tempo — o fio condutor para uma narrativa moldada pelo ideal de que o amor tem fôlego suficiente para enfrentar qualquer tormenta. Terry Ingram desloca o clichê dos amores interrompidos para um contexto contemporâneo, onde uma defensora pública inflexível e um veterinário de temperamento apaziguador são tragados pelas ironias do destino, que os coloca frente a frente em um cenário tão improvável quanto inevitável. Sob a superfície de um romance açucarado, insinua-se uma reflexão sobre o peso do passado e a maneira como as ausências moldam o presente.

O amor é um fenômeno escorregadio, tal qual um perfume que se dissipa ao menor sopro de vento, mas que nunca desaparece sem deixar vestígios. Pode ser vibrante como uma manhã ensolarada ou pesado como a noite mais densa, sufocando aquilo que deveria ser apenas a expressão livre da existência. Dias de inquietação desembocam em madrugadas vazias, em que os lençóis frios e a exaustão física são os únicos refúgios momentâneos. Mas há sempre um instante em que a solidão, antes dissimulada, abandona a sutileza e exibe suas garras, sabendo exatamente onde e como ferir. Relações humanas são territórios instáveis, e muitos acreditam que pausas estratégicas e distâncias calculadas são necessárias para reacender o que parecia esvanecer.

Abby acompanha Rachel, a amiga interpretada por Meghan Heffern, a um luxuoso resort especializado em terapias alternativas, supostamente para ajudá-la a superar o fim de um relacionamento. No entanto, o roteiro de Erin Fischer e Hayley Frazier logo subverte essa premissa: Rachel arquitetou tudo para obrigar Abby a se afastar do trabalho e a se permitir um instante de respiro. Entre massagens, meditações e uma falsa sensação de fuga do mundo real, Abby se acomoda na experiência — até que uma revelação inesperada reconfigura tudo ao seu redor.

Sean, o amigo de juventude com quem sonhara desbravar o mundo, também está ali. E com ele, retorna a lembrança do dia em que prometeram partir juntos, apenas para que ele não aparecesse na hora marcada. A partir desse reencontro, Ingram estabelece um jogo de tensão e expectativa, conduzindo os personagens por um carrossel de emoções que os obriga a revisitar dores passadas e questionar as certezas que sustentavam até então. Como é de praxe nas produções Hallmark, os conflitos são retratados com leveza, como na sequência em que Sean, durante uma atividade de arvorismo, congela de medo e precisa ser resgatado — ironicamente, por Abby.

A química entre Emilie Ullerup e Peter Mooney mantém o fio condutor de uma trama pontuada por situações previsíveis, mas que se mantém funcional graças à dinâmica bem ajustada do elenco. Chris Gauthier (1976-2024), como Randy, o excêntrico anfitrião do resort, adiciona camadas de excentricidade à história, garantindo momentos de alívio cômico.

À medida que os acontecimentos se desenrolam, a narrativa avança para uma nova crise, agora em meio à vastidão da floresta, onde Sean e Abby, após se perderem, encontram-se diante da necessidade de encarar não apenas os perigos da noite, mas também os fantasmas de um passado inacabado. Revelações tardias instauram outra ruptura, que ameaça ser definitiva. Mas, como qualquer romance ambientado entre árvores imponentes e silêncios preenchidos pelo canto da natureza, o desfecho não poderia ser outro. Amores, por mais turbulentos que sejam, precisam aprender a sobreviver fora das páginas dos contos de fadas.

Filme: Retiro do Amor
Diretor: Terry Ingram
Ano: 2023
Gênero: Comédia/Romance
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★