Obra-prima inspiradora com Hilary Swank é opção inestimável na Netflix para seu sábado Divulgação / Paramount Pictures

Obra-prima inspiradora com Hilary Swank é opção inestimável na Netflix para seu sábado

Desde “Sementes da Violência”, o cinema encontrou no arquétipo do professor idealista um terreno fértil para narrativas que combinam inspiração e desafio. “Escritores da Liberdade” não foge à regra, seguindo fielmente a estrutura consagrada por filmes como “Mentes Perigosas” e “O Preço do Desafio”. Nele, Hilary Swank interpreta Erin Gruwell, uma jovem professora que assume uma sala de aula repleta de alunos marginalizados, imersos em um cotidiano de violência e desesperança. Seu método revolucionário consiste em incentivar esses jovens a expressarem suas vivências por meio da escrita, um dispositivo que, no longa, é utilizado de forma eficaz através de narrações em off, conferindo profundidade ao enredo.

A estrutura narrativa de “Escritores da Liberdade” se apoia em um clichê irresistível: a chegada de um educador bem-intencionado, oriundo de um ambiente privilegiado, que se depara com uma realidade hostil e alunos descrentes no sistema de ensino. A resistência inicial da turma é gradativamente vencida pelo comprometimento da professora, culminando em um grupo transformado, pronto para romper com as barreiras sociais que os aprisionam. Esse padrão, amplamente explorado pelo gênero, é aqui revitalizado pela atuação autêntica do elenco juvenil, que imprime credibilidade às experiências retratadas. Destaque para April L. Hernandez e Deance Wyatt, que, em muitos momentos, eclipsam a própria performance de Swank.

Porém, à medida que a história avança, surgem questões incômodas sobre o modelo de educação glorificado pelo filme. A jornada de Gruwell exige um sacrifício absoluto: ela assume múltiplos empregos para custear material didático e dedica-se integralmente à sua turma, negligenciando seu casamento e vida pessoal. Essa representação suscita um questionamento fundamental: seria razoável esperar que todo professor abdicasse de sua própria existência para ser eficaz? O longa ignora os milhares de docentes que, sem holofotes, transformam vidas diariamente sem precisar se consumir por completo. Ademais, há um silêncio sobre um aspecto crucial: Gruwell seguiu acompanhando aqueles alunos após o ensino médio, mas jamais voltou a lecionar em escolas secundárias. Isso reforça a ideia de que professores transformadores são meteoros que brilham intensamente por um curto período, deixando para trás um cenário em que a permanência e a constância são subestimadas.

Embora emotivo e envolvente, “Escritores da Liberdade” não está isento de escolhas questionáveis. O roteiro simplifica a oposição que Gruwell encontra entre seus colegas de trabalho, retratando-os como caricaturas de profissionais amargurados e incapazes de acreditar no potencial dos alunos. Essa dicotomia enfraquece a narrativa, pois ignora a complexidade do sistema educacional e dos desafios estruturais enfrentados por professores. Mesmo assim, momentos tocantes, como a visita da turma ao Museu da Tolerância e a leitura de “O Diário de Anne Frank”, conferem ao filme uma autenticidade emocional que resiste aos clichês.

“Escritores da Liberdade” se insere em uma longa tradição de dramas sobre professores heroicos, repetindo fórmulas consagradas, mas com suficiente competência para conquistar o espectador. Sua mensagem sobre o poder da educação é genuinamente inspiradora, ainda que romantizada. Contudo, ao exaltar um modelo de ensino que exige sacrifício absoluto, o filme inadvertidamente diminui a importância de um corpo docente comprometido, mas humano, que continua na linha de frente, década após década, fazendo a diferença sem necessitar de um holofote cinematográfico.

Filme: Escritores da Liberdade
Diretor: Richard LaGravenese
Ano: 2007
Gênero: Biografia/Crime/Drama
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★