O filme mais caro (e mais esperado) de 2025, até agora, acaba de chegar à Netflix Paul Abell / Netflix

O filme mais caro (e mais esperado) de 2025, até agora, acaba de chegar à Netflix

Chega um instante na vida em que qualquer pretensão de reorganizar o mundo sucumbe à constatação de que manter nossa própria existência minimamente equilibrada já se configura como um desafio assombroso. Se algo permanece imutável em meio às incertezas, é o tempo: indiferente, impassível, insubmisso a vontades humanas. Ele avança sem descanso, reduzindo à irrelevância qualquer ilusão de controle. Assim, projetar o futuro da inteligência artificial é tarefa que escapa a qualquer previsibilidade, sobretudo porque alimentamos essa tecnologia com angústias, ansiedades e contradições muito mais nossas do que dela.

Em tal cenário, torna-se quase inevitável que o cinema explore esses labirintos de possibilidades e ameace-nos com narrativas onde seres sintéticos nos substituem em nossas próprias funções, desmantelando famílias e destruindo o que antes chamávamos de lar. Essa inquietação impulsiona “The Electric State”, mais uma incursão distópica dos irmãos Anthony e Joe Russo, banhada em tecnologia de ponta e amarrada a um enredo repleto de reviravoltas.

A humanidade, ao inventar problemas, também cria soluções que, paradoxalmente, complicam ainda mais sua existência. Engrenagens e códigos surgem para facilitar o cotidiano, mas, no processo, acabam moldando novas formas de dependência. O que antes era uma extensão do corpo ou um aprimoramento das capacidades humanas torna-se uma necessidade incontestável, um complemento imprescindível da consciência. A artificialidade penetra o tecido da rotina, e, sem que nos demos conta, eletrodomésticos, autômatos e inteligências simuladas assumem espaços que julgávamos exclusivamente nossos. O silêncio das músicas antigas cede lugar ao ruído das novas urgências, enquanto nos apressamos a preencher vazios com engenhocas que logo se tornam obsoletas.

No coração dessa trama, o roteiro de Stephen McFeely, Christopher Markus e Simon Stålenhag costura um debate sobre a onipresença das mentes eletrônicas, personificadas na figura de Ethan Skate, vilão interpretado com maestria por Stanley Tucci. Entretanto, mesmo ao enfatizar o avanço inexorável da tecnologia, o filme não abdica de um olhar para o que é essencialmente humano: a necessidade de laços autênticos. Sentimentos não se transmitem por protocolos de software, não se constroem em linhas de código.

Um toque, um olhar, a troca de calor entre duas presenças reais — eis o que os robôs apenas imitam, sem jamais compreender. Essa verdade se cristaliza quando a narrativa revela sua espinha dorsal: a história de dois irmãos na década de 1990, separados pela morte do mais novo e reunidos em uma jornada que obriga a primogênita a confrontar o momento mais doloroso de sua existência tão visceralmente humana. Michelle e Christopher, interpretados por Millie Bobby Brown e Woody Norman, transitam com profundidade por essa trama carregada de emoções, guiando o público por um labirinto de memórias e reflexões. Sonhando, mas sem jamais perder de vista a inquietante realidade que se impõe.

Filme: The Electric State
Diretor: Anthony e Joe Russo
Ano: 2025
Gênero: Aventura/Ficção Científica
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★