Faroeste influenciado por Quentin Tarantino que acaba de chegar à Netflix tem 97% de aprovação no Rotten Tomatoes Divulgação / Well Go USA

Faroeste influenciado por Quentin Tarantino que acaba de chegar à Netflix tem 97% de aprovação no Rotten Tomatoes

Em um posto de gasolina isolado no interior árido do Arizona, na década de 1970, um grupo de desconhecidos se vê obrigado a esperar no restaurante próximo enquanto aguardam o reabastecimento. Entre eles, dois criminosos que acabaram de roubar 700 mil dólares, uma garçonete sobrecarregada, um caixeiro-viajante em má fase e jovens delinquentes seduzidos pela ilusão da violência. O que poderia ser um simples contratempo se transforma em um jogo de tensão crescente, onde a suspeita permeia cada olhar e a incerteza paira no ar. Essa é a premissa de “Última Parada do Arizona”, estreia de Francis Galluppi na direção de longas-metragens, um thriller que, dentro de uma estrutura familiar, encontra meios de explorar as fragilidades humanas sob pressão extrema.

Galluppi trilhou um caminho singular até esse projeto. Inicialmente músico, migrou para o cinema e dirigiu curtas como “High Desert Hell” e “The Gemini Project” antes de concretizar sua visão para “Última Parada do Arizona”. O projeto passou anos em gestação, enfrentando impasses com estúdios que tentavam impor mudanças criativas. O filme só se tornou realidade graças a um ato de devoção do produtor executivo James Claeys, que vendeu sua própria casa para garantir o orçamento modesto de um milhão de dólares. Com um elenco formado majoritariamente por atores desconhecidos e um espírito independente pulsante, a obra conquistou reconhecimento, impressionando ninguém menos que Sam Raimi, que prontamente contratou Galluppi para dirigir um novo capítulo da franquia “Evil Dead”.

O filme constrói sua tensão de forma meticulosa, explorando o confinamento como um catalisador de paranoia e desespero. O conceito do “dinheiro em uma sacola” já foi amplamente explorado no cinema, mas Galluppi encontra uma abordagem própria ao centrar a trama na interação entre personagens multifacetados, cada um carregando sua dose de ambiguidade moral. A história avança como um jogo de xadrez, onde cada decisão altera o equilíbrio de forças, conduzindo a um desfecho inevitavelmente brutal. Jim Cummings brilha como o vendedor de facas que se vê no centro da tempestade, enquanto Richard Brake e Nicholas Logan entregam atuações intensas como os criminosos que oscilam entre o controle frio e o desespero absoluto. O desfecho, embora coerente com a lógica interna do filme, poderia manter a mesma intensidade do percurso, mas ainda assim ressoa com a amarga ironia típica do gênero, evocando clássicos como “O Tesouro de Sierra Madre”.

O longa evoca a estética crua dos thrillers policiais das décadas de 1960 e 1970, mesclando elementos do western revisionista com a energia visceral do cinema independente. A fotografia, dominada por tons desérticos e uma atmosfera sufocante, lembra o universo estilizado dos spaghetti westerns, enquanto a dinâmica dos personagens e os diálogos afiados sugerem uma influência de Quentin Tarantino. A escalada de tensão na segunda metade do filme recompensa a paciência do espectador com uma sucessão de reviravoltas carregadas de humor ácido, violência seca e dilemas éticos sem respostas fáceis. Aqui, sobrevivência é menos uma questão de força e mais uma ilusão passageira, onde todos parecem condenados desde o início.

Mesmo operando dentro dos códigos do gênero, “Última Parada do Arizona” encontra espaço para se destacar pela precisão de sua narrativa e pela riqueza de suas composições visuais. Galluppi demonstra um controle admirável sobre o ritmo e a atmosfera, fazendo de sua estreia uma experiência envolvente e estilisticamente marcante. Não se trata de reinventar a roda, mas de refiná-la ao ponto em que cada giro parece tão afiado quanto imprevisível. Com criatividade e compromisso, o cineasta prova que, mesmo com recursos limitados, é possível criar um filme que deixa uma impressão duradoura.

Filme: A Última Parada do Arizona
Diretor: Francis Galluppi
Ano: 2023
Gênero: Crime/Drama/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★