Comédia romântica no Prime Video que parece bobinha, mas não é e vai te ensinar valorosas lições de vida Divulgação / Orogen Entertainment

Comédia romântica no Prime Video que parece bobinha, mas não é e vai te ensinar valorosas lições de vida

Tramas de loopings temporais geralmente surgem quando a narrativa deseja ensinar uma lição ao protagonista: valorizar a vida, perceber como cada instante, por mais trivial que pareça, pode ser um catalisador de mudanças profundas e inesperadas. Além disso, esses enredos costumam fazer com que os personagens passem a perceber pessoas que antes ignoravam ou os ensinam a enxergar a vida sob a perspectiva do outro. “Ajustando um Amor”, de Alex Lehmann, segue essa tradição sem grandes desvios.  

Neste filme, estrelado por Kaley Cuoco e Pete Davidson, o diferencial está no olhar do diretor sobre seus personagens. Raramente protagonistas de comédias românticas são tão fáceis de se conectar quanto os de Lehmann. Especializado em comédias observacionais e de comportamento, o cineasta capta com sensibilidade as angústias da vida cotidiana em figuras genuinamente comuns, muitas vezes atormentadas, tornando fácil enxergar a própria realidade dentro da história. Sua abordagem intimista às crises emocionais e transtornos psíquicos, sem exageros ou melodramas forçados, se parecem mais como um documentário da vida real.

Desde sempre, seus protagonistas não seguem padrões inalcançáveis: não possuem belezas irreais, estilos de vida invejáveis, closets repletos de roupas de grife ou carreiras de sucesso. Cuoco e Davidson podem parecer um casal improvável na ficção, mas a química entre eles, embora caótica, soa autêntica e palpável.  

Cuoco interpreta Sheila, uma mulher depressiva que decide que aquele será o último dia de sua vida. Antes de pôr fim à própria existência, resolve ir a um salão de beleza e fazer as unhas, como um último gesto de autocuidado. Lá, encontra June (Déborah S. Craig), uma manicure excêntrica e inexpressiva, que revela a existência de uma máquina do tempo nos fundos do salão. Ao perceber os planos de Sheila, June a convence a voltar 24 horas no tempo, como uma chance de reconsiderar sua decisão.  

Sheila então vai a um bar, onde conhece Gary (Davidson), um rapaz sensível, mas com problemas de autoestima e traumas do passado, especialmente relacionados à morte do pai — um tema recorrente nos personagens de Davidson, refletindo sua própria tragédia pessoal com a perda do pai nos atentados de 11 de setembro de 2001. A noite entre eles se desenrola de forma tão positiva para Sheila que, ao final, decide retornar à máquina do tempo para revivê-la inúmeras vezes.  

Engessada na dor da depressão, Sheila vê nesse momento de felicidade sua única oportunidade de viver plenamente. Um ano se passa, e ela e Gary repetem a mesma noite diariamente. Mas aquilo que inicialmente era especial perde o brilho. A postura vitimista de Gary começa a irritá-la, as conversas, antes envolventes, tornam-se tediosas. Tudo se se torna exaustivo. Para Gary, que descobre a cada noite que Sheila é uma viajante do tempo, o relacionamento se transforma em uma prisão — ele está preso na vida de alguém que se recusa a seguir em frente.  

Sheila evita o futuro porque teme as desilusões e decepções que um relacionamento real poderia trazer. Assim, “Ajustando um Amor” muda o tom de comédia romântica, adquirindo uma nuance melancólica e, em certos momentos, até perturbadora — lembrando a atmosfera de “Boneca Russa”. Lehmann conduz bem seus atores pelas oscilações de humor e pelas nuances narrativas, monstrando que até mesmo uma comida favorita, quando saboreada todos os dias, acaba enjoando. A imprevisibilidade é o que torna a vida fascinante. É preciso acreditar no futuro.

Filme: Ajustando um Amor
Diretor: Alex Lehmann
Ano: 2022
Gênero: Comédia/Drama/Fantasia/Ficção Científica
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★
Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.