Zac Efron em atuação extraordinária em thriller que narra história de um dos criminosos mais crueis de todos os tempos, no Prime Video Divulgação / COTA Films

Zac Efron em atuação extraordinária em thriller que narra história de um dos criminosos mais crueis de todos os tempos, no Prime Video

Desde que Ted Bundy entrou para o panteão das figuras criminais mais estudadas da história, sua representação no cinema e na cultura popular oscilou entre o horror inescapável e a incômoda fascinação por sua imagem de homem carismático. “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal” percorre um caminho distinto ao se recusar a espetacularizar a violência de seus crimes, optando por dissecar a construção da falsa normalidade que lhe permitiu enganar tantos por tanto tempo. Em vez de mergulhar na investigação policial ou nos detalhes dos assassinatos, o filme prioriza a exploração psicológica do assassino e sua habilidade de manipular não apenas vítimas, mas a sociedade como um todo.

A escalação de Zac Efron como Bundy gerou polêmicas, com críticos argumentando que sua presença suaviza a imagem do criminoso. No entanto, a escolha é fundamental para compreender como Bundy conseguia operar sem levantar suspeitas: sua verdadeira arma era a capacidade de persuadir, iludir e se vender como um homem confiável. Efron entrega uma atuação meticulosamente calibrada, transitando entre o charme e a frieza calculista de forma perturbadoramente convincente. O filme captura o cerne do fenômeno Bundy ao evidenciar como ele não era apenas um assassino em série, mas um exímio manipulador, capaz de encenar sua própria versão da realidade até o último momento.

Diferentemente de outras produções que enfatizam a brutalidade de seus crimes, “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal” adota a perspectiva de Liz Kendall, interpretada com profundidade por Lily Collins. Ao acompanhar a história pelos olhos de uma mulher que acreditava estar em um relacionamento estável, o filme torna a experiência ainda mais inquietante. A estrutura narrativa não se apoia em um desfile de atrocidades, mas na construção gradual da desconfiança, no lento desmoronamento da ilusão e no impacto psicológico devastador que a verdade impõe. 

O roteiro evidencia como Bundy não apenas vitimava mulheres, mas também seduzia uma audiência inteira com seu dom para a autopromoção. Sua performance no tribunal, a forma como transformava seu julgamento em um espetáculo midiático e a idolatria que despertava em admiradoras revelam uma sociedade que, muitas vezes, se deixa cegar pelo carisma em detrimento da realidade. O filme reproduz fielmente momentos de seus julgamentos, utilizando declarações reais e reforçando a discussão sobre a influência da mídia na construção da imagem de figuras criminosas.

No desfecho, um lembrete incômodo: os nomes das vítimas aparecem na tela, um tributo silencioso, mas poderoso, a vidas brutalmente interrompidas.  “Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal” não busca humanizar Bundy, tampouco transformá-lo em um monstro de caricatura. Seu propósito é investigaro poder da manipulação e da facilidade com que a ilusão pode substituir a verdade. É um retrato perturbador de como o mal pode se esconder sob a aparência do comum e de como a sociedade, muitas vezes, prefere acreditar na mentira mais confortável a encarar a verdade mais cruel.

Filme: Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal
Diretor: Joe Berlinger
Ano: 2019
Gênero: Biografia/Crime/Drama/Thriller
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★