Uma família fragmentada por feridas antigas, distanciamentos irreparáveis e perdas que deixaram marcas profundas dificilmente se apresenta como um cenário propício para leveza. No entanto, este filme desafia expectativas ao equilibrar melancolia e humor com uma sensibilidade rara. A história se constrói em meio a laços desgastados, ressentimentos não verbalizados e uma resistência coletiva em aceitar mudanças. O desenvolvimento dos personagens não segue atalhos ou reviravoltas, mas se desenha organicamente, conforme cada um enfrenta suas próprias dores e passa a enxergar o outro com mais humanidade.
O roteiro, cuidadosamente elaborado, evita melodramas e constrói uma dinâmica familiar de autenticidade palpável. Aqui, tanto os diálogos quanto os silêncios desempenham papel crucial, evidenciando conflitos e afetos com a mesma intensidade. O elenco sustenta essa verossimilhança com atuações que transitam entre vulnerabilidade e dureza, destacando personagens que oscilam entre egoísmo e ternura, raiva e necessidade de conexão. A protagonista, inicialmente envolta em uma postura ríspida, revela fragilidades à medida que seu passado é desvendado, tornando compreensíveis suas barreiras emocionais. Sua irmã, por outro lado, apresenta outra face do sofrimento: o disfarce da dor por meio do humor, enquanto carrega ressentimentos que nunca foram plenamente confrontados. A tensão entre as duas delineia um dos aspectos mais ricos da narrativa, ao demonstrar que, em relações familiares, não há vilões absolutos nem vítimas incontestáveis.
Embora não seja uma comédia tradicional, o filme insere momentos de humor que suavizam o peso emocional da trama sem comprometer sua profundidade. O namorado egocêntrico da protagonista, a sogra cujo sarcasmo se confunde com sabedoria e o filho de sua irmã, cuja espontaneidade escapa às amarras dos conflitos adultos, adicionam camadas ao enredo, tornando os desajustes familiares ainda mais críveis. O riso surge da identificação, da percepção de que os absurdos cotidianos da convivência são, na verdade, o que torna qualquer família singular.
A narrativa levanta uma questão fundamental: até que ponto a reconstrução dessas conexões é viável? A premissa de que uma simples reunião para uma foto de família possa remediar anos de afastamento soa irreal, mas o filme sugere que a disposição em estar presente pode ser o primeiro passo para qualquer reaproximação. Afinal, amadurecer não significa apenas aprender a conviver com as ausências, mas também transformar essas lacunas em parte de quem se é. Assim, a história não se limita a explorar o peso da perda, mas aponta para a necessidade de encarar os próprios fantasmas, reconhecendo que, independentemente do que tenha acontecido, certos vínculos jamais se rompem por completo.
★★★★★★★★★★