Chegou à Netflix o faroeste que quebrou recordes de audiência e reinventou o Velho Oeste americano Divulgação / Paramount+

Chegou à Netflix o faroeste que quebrou recordes de audiência e reinventou o Velho Oeste americano

O faroeste se ergue sobre a poeira de territórios sem lei, moldado pela busca implacável por reparação. Nesse universo, vingança e justiça se entrelaçam de forma brutal, arrastando homens marcados por perdas e cicatrizes para jornadas onde o sangue derramado é a única resposta ao sangue derramado. O acerto de contas não é apenas uma consequência, mas um princípio fundamental da narrativa, transformando seus protagonistas em figuras paradoxais: guardiões de uma ordem construída sobre a anarquia, sacerdotes da violência que elevam a destreza com o revólver e o conhecimento das artimanhas da terra ao status de virtude. A mítica do cowboy não se resume à simples defesa da propriedade ou da família, mas sim à personificação de um ethos em que a sobrevivência depende da coragem de se impor, sem hesitar, diante das ameaças que despontam no horizonte.

Taylor Sheridan reafirma essa concepção com “1883”, uma crônica árida e feroz que funde os arquétipos clássicos do western a um thriller de densidade cortante. No centro da trama, um ex-escravizado chega a Yellowstone, Montana, com a determinação de construir uma vida digna de sua liberdade recém-adquirida, mas descobre que a terra prometida está repleta de perigos que desafiam tanto seu corpo quanto sua alma. A série, disponível na Netflix e na Paramount+, serve de preâmbulo para os conflitos que, anos depois, cercam John Dutton e sua família, estendendo-se por gerações em uma disputa onde dinheiro, influência e violência definem o destino dos que ousam reivindicar seu lugar nesse vasto e implacável território.

A saga continua em “1923”, outro desdobramento do universo criado por Sheridan, que examina as cicatrizes de um passado ainda latente. John Dutton, interpretado por Kevin Costner, personifica o peso dessa herança, carregando consigo o trauma e as responsabilidades herdadas. Embora pareça inabalável à primeira vista, a série expõe as fissuras que atravessam sua fortaleza emocional, evidenciadas em flashbacks que revelam os fantasmas de sua linhagem. O poder que ostenta vem a um preço alto, e a política, os negócios ilícitos e as disputas territoriais emolduram um cenário em que alianças são frágeis e traições, inevitáveis. A dinâmica familiar, sustentada por personagens como Jamie, Beth e Kayce, interpretados por Wes Bentley, Kelly Reilly e Luke Grimes, oscila entre lealdade e rivalidade, compondo um tabuleiro onde cada movimento pode redefinir os rumos do império Dutton.

Nesse enredo de ambição e sobrevivência, James Dutton, irmão do protagonista de Costner, emerge como peça-chave. Vivido por Tim McGraw, ele imprime uma presença magnética, capaz de centralizar as atenções sem reduzir seus companheiros a meros coadjuvantes. Entretanto, por mais que a produção capture a essência do gênero, os capítulos subsequentes da franquia demonstram maior vigor narrativo, explorando com mais intensidade os dilemas e confrontos que permeiam a trajetória dessa família. O faroeste de Sheridan, longe de ser apenas um resgate nostálgico, se firma como um estudo sobre a perpetuação do poder em uma terra onde a lei ainda é um conceito maleável e a força continua sendo a última palavra.


Série: 1883
Criação: Taylor Sheridan
Ano: 2021-2022
Gêneros: Faroeste
Nota: 8/10