As adaptações televisivas das obras de Harlan Coben se tornaram um fenômeno, atravessando fronteiras culturais sem perder a essência do suspense que caracteriza seus romances. A mais recente minissérie polonesa baseada em seu trabalho mantém essa tradição, porém, ao inserir-se em um contexto distinto, adiciona camadas próprias de tensão e ambientação. Desde os momentos iniciais, o espectador é conduzido por um labirinto de incertezas, onde cada personagem oculta verdades que exigem decifração. O enredo, cuidadosamente construído, fornece respostas ao final, mas o verdadeiro interesse está no caminho até elas.
Entre os acertos da produção, a performance do elenco merece destaque, com ênfase na protagonista, interpretada por Maria Debska, cuja atuação equilibra vulnerabilidade e determinação. Os personagens secundários são mais do que meros coadjuvantes; cada um contribui para a densidade narrativa, adicionando perspectivas que enriquecem a trama. No entanto, nem todas as escolhas estéticas se mostram eficazes. A insistência em determinadas sequências à beira-mar, por exemplo, parece uma tentativa de impor uma atmosfera introspectiva, mas, por sua repetição excessiva, acaba diminuindo seu impacto. A carga simbólica dessas cenas poderia ser mais bem explorada, evitando uma sensação de redundância.
O momento mais impactante da história envolve um incêndio durante um concerto, uma cena que inevitavelmente remete a tragédias reais, como a da boate Colectiv, na Romênia. A abordagem desse evento dá à minissérie uma ressonância social que transcende o entretenimento, funcionando como um alerta sobre a negligência na segurança de eventos públicos. Ao incorporar essa referência de maneira crua e angustiante, a série se coloca em um diálogo maior, evocando o horror da imprudência institucional.
Algumas fragilidades narrativas são bastante perceptíveis. Para certos espectadores, determinadas decisões dos personagens desafiam a lógica interna do roteiro, comprometendo a coerência da trama. Além disso, a cadência deliberadamente mais lenta pode frustrar aqueles acostumados a thrillers de ritmo vertiginoso. A recorrência de adaptações de Coben também levanta questionamentos sobre a consistência de suas transposições para a tela: em meio a tantas produções, algumas acabam sacrificando nuances literárias em favor de um modelo mais industrializado de suspense televisivo. Apesar desses detalhes, a série mantém o mistério instigante o suficiente para prender a atenção, ainda que, ao final, permaneça a impressão de que algo ficou aquém do potencial que a história prometia.
★★★★★★★★★★