Misturar laços de sangue e negócios nunca parece uma equação favorável, e “Medusa” não faz nada para contestar essa percepção. Ao longo de doze episódios, a produção tenta emular a dinâmica de poder e corrupção familiar imortalizada por “Família Soprano”, mas carece da profundidade psicológica e do gênio narrativo da série da HBO. No centro da trama está um império empresarial de dimensões colossais, cujo nome evoca a górgona mitológica e seu emaranhado de serpentes venenosas. Há uma rede criminosa movimentando as engrenagens desse conglomerado, mas os diretores Said Chamie e Claudia Sánchez parecem receosos de aprofundar o retrato da podridão estrutural. O resultado é uma abordagem hesitante que, ao tentar manter certa ambiguidade, entrega uma narrativa óbvia e sem vigor. No fim, a série não consegue disfarçar sua previsibilidade: a grande revelação é tão banal quanto a ideia de que o culpado estava sempre à vista.
Bárbara Hidalgo, depois de anos de dedicação irrestrita à Medusa, ascende ao posto de CEO, posição que celebra com uma festança marítima de excessos e prazeres momentâneos. Interpretada com dignidade por Juana Acosta, a protagonista é vítima de um atentado que a audiência rapidamente percebe como um golpe interno. A festa termina em tragédia: a embarcação explode e Bárbara, dada como morta, some dos radares. Seu destino, contudo, não se encerra ali. Resgatada por uma comunidade de reclusos espirituais, ela retorna para reaver seu trono, reconstruída, mas não necessariamente mais sagaz. Em paralelo, Danger Carmelo, um obstinado investigador que resiste às limitações do sistema policial, percebe que há muito mais por trás do atentado e aposta na teoria de que a serpente traiçoeira estava dentro da própria holding. Mas a complexidade prometida pela premissa desmorona conforme a trama se entrega a desvios que sabotam seu potencial.
Ainda que pretenda mergulhar no submundo corporativo e nas tensões familiares que regem um império forjado à base de segredos, “Medusa” sucumbe a escolhas que comprometem seu impacto. A direção, incapaz de decidir entre o thriller político e a novela sentimental, pesa a mão no melodrama, diluindo qualquer possibilidade de tensão genuína. O romance entre Bárbara e Danger, ao invés de aprofundar os conflitos, assume um protagonismo que empobrece a dinâmica de poder e enfraquece o suspense. O excesso de flashbacks, em vez de enriquecer a trama, gera dispersão e esvazia a progressão narrativa, fazendo com que os episódios se tornem um exercício de paciência. O erotismo, tão frequentemente utilizado como artifício narrativo, aqui se repete sem função clara, até que as cenas de sexo percam qualquer traço de sedução. A maior ironia é que, ao evitar compromissos mais audaciosos, a série acaba refém de sua própria falta de ousadia. O desfecho em aberto sugere uma possível continuação, mas fica a pergunta: se nem Perseu se deu ao trabalho de aparecer, por que o público deveria?
Série: Medusa
Criação: Said Chamie e Claudia Sánchez
Ano: 2025
Gêneros: Drama/Thriller/Suspense
Nota: 7/10