Descobrir quais obras literárias influenciaram grandes escritores pode ajudar a compreender melhor seus próprios livros e o contexto no qual produziram suas histórias. Muitas vezes, essas escolhas revelam preferências curiosas ou inesperadas, abrindo um novo olhar sobre o estilo e as temáticas que marcam suas trajetórias.
Nesta lista, autores consagrados como Ernest Hemingway, Gabriel García Márquez, Clarice Lispector e Haruki Murakami indicam obras que consideraram essenciais para sua formação literária. Ao revelar essas preferências pessoais, eles nos permitem explorar as conexões entre diferentes escritores e períodos literários.
Confira a seguir os livros favoritos desses grandes autores e veja como algumas dessas escolhas podem surpreender você.
Hemingway não simplesmente admirava “Anna Karenina”; ele a transformou em um modelo secreto para sua própria escrita. Ao absorver as conversas precisas, as descrições vigorosas e a profundidade emocional elaborada por Tolstói, ele aprendeu o valor narrativo da autenticidade silenciosa. Este romance russo tornou-se, assim, a chave silenciosa que destrancou o método literário pelo qual Hemingway conquistou leitores ao redor do mundo.
Para García Márquez, “O Som e a Fúria” foi mais do que uma influência: representou uma ruptura definitiva com as tradições literárias convencionais. Faulkner o ensinou a perceber o tempo não como uma linha, mas como um círculo infinito de memórias e emoções entrelaçadas. Essa percepção multidimensional pavimentou o caminho para o realismo mágico, que o autor colombiano revolucionaria em suas páginas.
Em “O Lobo da Estepe”, Clarice reconheceu um espelho literário que refletia suas próprias inquietações sobre a existência, a solidão e a crise de identidade. Hesse lhe mostrou que é possível explorar poeticamente a angústia pessoal, transformando-a numa jornada profunda e metafísica. Essa influência discreta ressoaria posteriormente nas nuances psicológicas das personagens claricianas.
Kafka, muitas vezes associado ao absurdo, à angústia existencial e ao surreal, surpreendentemente tinha como referência máxima “David Copperfield”. Para ele, Dickens representava a maior virtude literária possível: tornar o ordinário extraordinário, transformar personagens simples em representações universais da humanidade. Essa visão de empatia literária guiou Kafka em suas próprias narrativas, nas quais o comum se transforma em cenário para grandes dilemas existenciais.
Borges considerava “Dom Quixote” não como um romance, mas como uma biblioteca inteira compactada em uma única narrativa. Cervantes ensinou Borges a brincar habilmente com os limites entre realidade e ficção, entre livro e leitor, inspirando-o a criar uma literatura labiríntica que questiona constantemente a natureza da verdade e da imaginação.
Woolf viu em “Em Busca do Tempo Perdido” uma revolução silenciosa da narrativa moderna. Ao explorar a consciência e a memória de forma inédita, Proust mostrou-lhe como o passado pode coexistir ativamente com o presente no espaço narrativo. Inspirada nessa técnica delicada e profunda, Woolf consolidou sua própria abordagem revolucionária sobre o tempo e o fluxo da consciência em suas obras.
Dostoiévski referia-se a “Eugênio Oneguin” como a alma literária da Rússia. Pushkin sintetizava, para ele, toda a complexidade emocional e cultural russa em personagens inesquecíveis, profundamente humanos e vulneráveis. A partir desse exemplo, Dostoiévski aprofundou sua própria escrita, criando personagens cuja dimensão psicológica refletia os conflitos mais profundos da alma humana.
Joyce via em “Madame Bovary” uma expressão de perfeição formal e narrativa incomparável. Flaubert lhe ensinou o valor obsessivo da palavra exata, da frase perfeita, e mostrou que a literatura poderia ser profundamente reveladora das fragilidades humanas. Joyce absorveu esses ensinamentos com rigor absoluto, levando-os ao extremo em sua própria reinvenção do romance moderno.
Para Murakami, “O Grande Gatsby” não é apenas um romance, mas uma melodia literária que sintetiza sonhos perdidos, esperança e desilusão. Fitzgerald mostrou-lhe como construir atmosferas delicadamente melancólicas e personagens cuja complexidade emocional transcende o enredo simples. Murakami aplicou essas lições às suas narrativas, tornando-se mestre em retratar a solidão e a beleza dos encontros fugazes.
Bukowski afirmava categoricamente que John Fante foi o autor decisivo em sua formação literária, especialmente com o livro “Pergunte ao Pó”. Ao descobrir Fante, encontrou a sinceridade crua, a força das emoções cotidianas e o estilo direto e despojado que sempre buscara. A escrita honesta e visceral de Fante ensinou Bukowski que a literatura poderia emergir diretamente da vida, com suas dores, desejos e desesperos, transformando-se na principal inspiração para sua própria obra literária.
King encontrou em “1984” algo além de uma visão aterradora do futuro. Enxergou ali a essência profunda do medo humano: a perda da liberdade, a vigilância sufocante e a desesperança frente ao poder. Orwell mostrou-lhe que o terror mais assustador não vem dos monstros tradicionais, mas da realidade distorcida e opressiva, uma lição que King incorporou em suas próprias narrativas perturbadoras.