Los Angeles, 1949. Em meio ao glamour e à decadência da cidade, um império do crime se ergue sob o comando de Mickey Cohen (Sean Penn). Com tentáculos que se estendem da máfia ao sistema judiciário, Cohen opera sem medo, sustentado por uma rede de corrupção que compromete até as mais altas instâncias da lei. Diante desse cenário, um grupo de policiais se lança em uma ofensiva clandestina para desmantelar seu domínio. Liderados pelo obstinado sargento John O’Mara (Josh Brolin) e autorizados pelo chefe de polícia W.H. Parker(Mick Betancourt), esses homens assumem a missão de restaurar a ordem por meios que beiram a ilegalidade. O resultado é uma guerra silenciosa travada nas sombras, onde a linha entre justiça e vingança se torna cada vez mais tênue.
Inspirado em eventos reais, “Caça aos Gângsteres” resgata a estética dos filmes noir, mas o faz com uma abordagem que privilegia estilo em detrimento de substância. A comparação com “Os Intocáveis” é inevitável, não apenas pela premissa semelhante, mas também pela tentativa de representar a grandiosidade de um embate entre a lei e o crime organizado. No entanto, o filme dirigido por Ruben Fleischer se rende à estilização excessiva, sacrificando a construção dramática em favor de sequências de ação exuberantes.
O elenco é composto por nomes de peso, como Sean Penn, Josh Brolin, Ryan Gosling e Emma Stone. No papel de Mickey Cohen, Penn se entrega a uma interpretação exagerada, que transforma o gângster em uma caricatura grotesca, mais próxima de um vilão de história em quadrinhos do que de um antagonista crível. Brolin encarna O’Mara com a rigidez de um homem obstinado pelo dever, mas sem camadas que tornem sua jornada emocionalmente envolvente. Gosling, por outro lado, traz um charme cínico ao papel de Jerry Wooters, adicionando um contraste bem-vindo à rigidez de seu parceiro. Já Emma Stone, ainda que magnética em cena, recebe uma personagem subaproveitada, cuja presença se resume a um triângulo amoroso previsível.
Visualmente, a produção impressiona. A direção de arte e o figurino recriam com minúcia a Los Angeles do pós-guerra, enquanto a fotografia de Dion Beebe imprime um brilho polido às ruas nebulosas e aos clubes luxuosos frequentados pela elite criminosa. A trilha sonora de Steve Jablonsky, embora eficiente, carece de identidade própria, reforçando a sensação de um filme que opera dentro de um molde já desgastado.
No roteiro, “Caça aos Gângsteres” segue uma estrutura convencional, sem espaço para surpresas. O recrutamento da equipe, as incursões contra os negócios de Cohen e a escalada de violência conduzem a um clímax previsível, sem desvios que desafiem o espectador. O conflito moral subjacente — até que ponto a justiça pode se assemelhar à brutalidade que combate? — nunca é realmente explorado, reduzindo a trama a um embate maniqueísta. Cohen é um tirano cujos excessos nunca encontram contraponto, tornando-se apenas um obstáculo a ser removido, sem o peso de uma verdadeira ameaça psicológica.
Os bastidores do filme também revelam desafios significativos. Originalmente previsto para 2012, o lançamento foi adiado após o massacre de Aurora, que tornou inapropriada a inclusão de uma cena de tiroteio dentro de um cinema. A sequência foi refilmada em outro contexto, alterando um dos momentos-chave da história e evidenciando as dificuldades de equilibrar entretenimento e sensibilidades do mundo real.
“Caça aos Gângsteres” entrega um thriller de ação visualmente refinado, mas desprovido de profundidade. Se por um lado a produção satisfaz quem busca um espetáculo estilizado com sequências de tiroteio bem coreografadas, por outro, frustra aqueles que esperam uma narrativa que transcenda clichês e explore camadas mais complexas do gênero. O filme é um tributo ao noir clássico, mas carece da ambiguidade e da densidade psicológica que tornaram o gênero memorável. Assim, permanece como um passatempo eficiente, mas passageiro, incapaz de deixar uma marca duradoura na paisagem do cinema policial.
★★★★★★★★★★
