Denzel Washington, Rami Malek e Jared Leto: thriller psicológico que vai elevar sua tensão ao limite, na Max Divulgação / Warner Bros.

Denzel Washington, Rami Malek e Jared Leto: thriller psicológico que vai elevar sua tensão ao limite, na Max

Denzel Washington, Rami Malek e Jared Leto formam um trio de atuação promissor em “Os Pequenos Vestígios”, um thriller que busca equilibrar a tensão psicológica com a investigação criminal. O filme é um estudo de obsessão e moralidade, ancorado em personagens atormentados por seus próprios dilemas, mas sua execução revela uma estrutura irregular que compromete a imersão pretendida.

A atmosfera soturna é um dos pilares do longa. A fotografia aposta em um jogo de sombras opressivo, uma paleta de cores dessaturada e enquadramentos precisos que remetem a clássicos do gênero. Esse cuidado visual sustenta, em parte, a construção de um clima de inquietação constante. No entanto, a direção não mantém o mesmo nível de controle sobre o ritmo narrativo. O primeiro ato se arrasta, prejudicando a progressão do suspense e tornando a espera pela introdução de Jared Leto uma experiência mais longa do que deveria ser. Quando finalmente surge, seu Albert Sparma exala um mistério inquietante, mas a demora em estabelecer sua influência sobre a trama enfraquece seu impacto.

Denzel Washington, interpretando Joe “Deke” Deacon, carrega a bagagem de um detetive consumido pelo passado. Seu desempenho é contido e expressivo, revelando camadas de culpa e obsessão sem necessidade de grandes gestos. A dinâmica com Jim Baxter, vivido por Malek, estabelece um vínculo ambíguo entre mentor e protegido, oscilando entre admiração e um sombrio presságio de repetição de erros. Malek, por outro lado, entrega uma performance que divide opiniões: sua abordagem introspectiva contribui para a tensão, mas sua dicção peculiar e escolha de entonação distanciam o espectador em momentos cruciais.

A montagem fragmentada prejudica a imersão, alternando entre cortes abruptos que interrompem a fluidez narrativa. Pequenos instantes que deveriam contribuir para a construção da tensão — como um olhar silencioso entre parceiros ou um momento trivial de cotidiano — perdem força devido à insistência em uma edição que tenta imprimir urgência, mas acaba criando um efeito contrário. O resultado é um filme que, paradoxalmente, parece mais longo do que realmente é.

A trama sugere inspirações em “Seven: Os Sete Crimes Capitais” e “Insônia”, evocando o mesmo clima opressor e a exploração dos limites morais da investigação policial. No entanto, enquanto essas referências se consolidam por sua precisão estrutural, “Os Pequenos Vestígios” hesita entre diferentes abordagens sem estabelecer uma identidade coesa. O roteiro flerta com a ideia de que a perseguição à verdade pode ser mais destrutiva do que o próprio crime investigado, um conceito rico que, infelizmente, se dilui em decisões narrativas inconsistentes.

A obsessão de Deke e Baxter por Sparma se desenvolve de maneira abrupta, sem uma sustentação convincente. A desconfiança inicial, baseada em detalhes superficiais, não justifica a intensidade da perseguição, tornando o desenvolvimento do conflito menos envolvente do que poderia ser. Além disso, a lógica por trás da investigação se fragiliza à medida que avança, minando o peso dramático das decisões tomadas pelos personagens.

Ainda assim, “Os Pequenos Vestígios” aposta em uma ambiguidade que provoca reflexão, fugindo da gratificação imediata. No entanto, esse acerto isolado não compensa integralmente os tropeços estruturais que impedem o filme de alcançar seu potencial máximo. O longa se estrutura na força de suas atuações e em seu apelo atmosférico, mas não consegue ir além de suas limitações narrativas para se tornar memorável dentro do gênero.

Filme: Os Pequenos Vestígios
Diretor: John Lee Hancock
Ano: 2021
Gênero: Crime/Drama/Suspense
Avaliação: 8/10 1 1
★★★★★★★★★★