O melhor suspense policial do mês chegou à Max: Benicio Del Toro e Don Cheadle em uma trama eletrizante Divulgação / HBO Max

O melhor suspense policial do mês chegou à Max: Benicio Del Toro e Don Cheadle em uma trama eletrizante

Em “Nem um Passo em Falso”, Steven Soderbergh, um aficionado por enredos de golpes, investigações e processos cujo fecho aponta para julgamentos que se arrastam por meses e deságuam em indenizações multimilionárias — e longas temporadas no xadrez para os responsáveis nos países ditos sérios —, leva o espectador a acreditar que ninguém deve confiar em ninguém, ninguém sequer gosta de ninguém, que toda criatura na face da Terra só se interessa por obter a maior vantagem que conseguir, sobre o maior número de otários. Econômico por natureza, Soderbergh faz deste um filme particularmente sucinto, tirando do roteiro de Ed Solomon apenas o necessário para emendar reviravoltas umas nas outras e deixar que a história segure o público no assento até o último lance. Grandes esquemas, malandros de rua capazes de dar nó em pingo d’água, revólveres e pistolas sempre a postos para entrar em ação são elementos que adonam-se do cenário, numa teia complexa de enganos, traições e luta por poder de resultados imprevisíveis.

Na Detroit de 1954, durante o esplendor da indústria automobilística, Doug Jones, um misterioso peixe miúdo da máfia, recruta bandidos para servicinhos sujos e bem-pagos. Curt Goynes está saindo da cadeia, não tem a menor ideia de como irá se sustentar, mas para sua sorte, assim ele o crê, Jones o encontra e oferece-lhe cinco mil dólares por um trabalho, dois mil à vista. Nesse momento, o diretor permite que “Nem um Passo em Falso” lembre “O Estranho” (1999), mas só até o ponto em que Ronald Russo, uma outra figura do submundo, aparece como auxiliar no plano, a subtração de papéis da casa de Frank Capelli, o chefão do crime organizado vivido por Ray Liotta. Goynes e Russo respondem a Charley, um tipo aparentemente atoleimado, porém um dos melhores no seu ramo, e só pela afinidade entre Don Cheadle, Benicio Del Toro e Kieran Culkin o filme já valeria a pena. Enquanto o trio acerta os ponteiros e tenta superar suas diferenças — com destaque para os comentários racistas de Russo para Goynes —, Soderbergh explora as entrelinhas da relação clandestina do personagem de Del Toro e Vanessa, a esposa de Capelli, de Julia Fox.

“Nem um Passo em Falso” vai oscilando de um thriller acerca dos vínculos frágeis entre gente que ganha a vida com as vulnerabilidades alheias e as inseguranças dessa mesma gente — tanto pior se aquele tácito, mas indefectível código de conduta a permear a trajetória dos delinquentes é ignorado — e os pontos de contato entre eles, que também amam, sofrem rejeição e perdem a cabeça, e nós. Mais uma vez, Soderbergh prova que cada um enfrenta a vida com as armas de que dispõe, o que não tem nada a ver com legitimar ou reprimir atitudes violentas. Cultural ou não, a violência existe, tipos a exemplo de Doug Jones, do sempre aplicado Brendan Fraser, Curt Goynes, Ronald Russo e Charley existem e, feito as baratas, jamais hão de sumir. O cinema só os denuncia.

Filme: Nem um Passo em Falso
Diretor: Steven Soderbergh
Ano: 2021
Gênero: Crime/Thriller
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★
Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.