Desde que se consolidou como um dos rostos mais icônicos do cinema contemporâneo, Nicolas Cage construiu uma trajetória marcada por escolhas inusitadas e performances que desafiam qualquer zona de conforto. “Renfield” é mais um capítulo dessa jornada singular, abraçando o grotesco e o absurdo em uma abordagem que transforma o universo de Drácula em um espetáculo de humor e violência estilizada. Longe de buscar o refinamento narrativo ou o prestígio dos grandes festivais, o filme se compromete apenas com sua premissa escrachada: uma comédia de terror que transborda exagero e irreverência. E, nesse sentido, acerta em cheio.
O humor é o fio condutor da produção, estruturado em piadas que subvertem os clichês do gênero e brincam com a mitologia vampiresca. Nicholas Hoult, no papel-título, entrega uma atuação equilibrada entre a submissão patética e a frustração crescente de seu personagem, enquanto Awkwafina cumpre sua função dentro da trama, sem grandes surpresas. No entanto, é impossível desviar os olhos de Nicolas Cage. Sua interpretação de Drácula é um espetáculo à parte, oscilando entre o aterrorizante e o farsesco com uma naturalidade que apenas ele poderia oferecer. Cada aparição sua domina a tela, evocando ao mesmo tempo um senso de ameaça e um tom caricato, em perfeita sintonia com a proposta do filme.
Embora o ritmo frenético seja um dos trunfos da narrativa, ele também expõe algumas fragilidades. A montagem por vezes se torna um obstáculo para a fluidez da história, com cortes excessivamente rápidos que prejudicam a imersão. As sequências de ação, embora visualmente impactantes e recheadas de sangue, poderiam ser mais bem lapidadas, especialmente na coreografia dos confrontos, que em certos momentos se perdem no excesso de edição. O enredo, ainda que funcional, carece de um desenvolvimento mais coeso, apresentando algumas escolhas estruturais que enfraquecem a progressão da trama. Pequenas reorganizações nas cenas e um ajuste no ritmo narrativo poderiam ter elevado ainda mais o resultado final.
Ainda assim, “Renfield” se sustenta como uma experiência divertida e despretensiosa. Com uma duração enxuta de 90 minutos, não há espaço para enrolação: o filme entrega exatamente o que se propõe, mantendo o espectador engajado com uma sucessão de momentos insanos e visuais marcantes. Apesar de algumas das melhores cenas já terem sido antecipadas no trailer, há surpresas suficientes para justificar a jornada. E para os fãs de Nicolas Cage, sua presença por si só já faz valer o ingresso.
O retorno de Cage a uma produção de grande porte era aguardado com expectativa desde “O Peso do Talento”, e “Renfield” reafirma sua capacidade de tornar qualquer projeto algo singular. Mesmo com suas falhas, o filme não trai sua essência: ele sabe exatamente o que quer ser e não tenta se levar a sério em nenhum momento. Para aqueles que buscam profundidade narrativa, a experiência pode parecer superficial. Mas para quem deseja assistir a um Drácula insano e inesquecível na pele de Nicolas Cage, “Renfield” entrega com louvor. O filme tem um compromisso com a diversão desenfreada que faz dele uma aposta certeira dentro de sua proposta.
★★★★★★★★★★