A vida é um intervalo curto entre nascer e morrer, durante o qual o homem persegue respostas para questões as mais complexas, as mais incômodas, sabendo que não irá encontrá-las — ou, pior, pensará tê-las encontrado, até que, muito tempo depois, terá de admitir que precipitou-se. Assim mesmo, cada um toma sua cruz e busca sentido para a caminhada, achando uma ou outra mão amiga, umas vacilantes, outras mais firmes, e o medo e a esperança muitas vezes acabam tornando-se uma coisa só.
Todos os anos, tartarugas depositam seus ovos nas praias do mundo inteiro, contando com a temperatura amena e a boa vontade dos homens quanto a deixá-las seguir seu curso e até, quem sabe, dar uma mãozinha na hora em que os filhotes rompem a casca e procuram o mar, recomeçando seu ciclo de 220 milhões de anos. Caretta Rudland, a mocinha de “A Casa na Praia”, traz no nome a resiliência dos quelônios e parece nunca ter visto problema nenhum em lançar-se à aventura do existir, sempre em busca de um porto seguro. Roger Spottiswoode recorre a metáforas da biologia marinha para amarrar a história de uma separação familiar ao reencontro marcado por uma notícia nada alvissareira. E, em meio a tudo isso, a certeza de que viver vale a pena.
Tudo vai bem na caótica vida de Caretta, até que ela perde o emprego de publicitária pelo qual batalhara tanto. Por uma estranha coincidência, depois de muito tempo, sua mãe, Lovie, torna a procurá-la e Cara decide que é hora de voltar a Charleston, a adorável cidadezinha portuária no sudeste da Carolina do Sul, e então o passado dá um jeito de dizer que ainda está lá. A roteirista Maria Nation adapta o romance homônimo de Mary Alice Monroe, de 2002, de modo a frisar essas armadilhas do destino, insinuando que Cara está sempre um passo atrás, pega no contrapé não por imperícia, mas pela arrogância de pensar que seu afinamento com o universo é incorruptível.
A visita à mãe acontece quase ao mesmo tempo em que revê Brett Beauchamps, um ex-namorado com quem passara um ano e meio, ainda que ela só consiga lembrar de um verão. Spottiswoode maneja bem todos esses muitos detalhes do texto de Nation, acrescendo a certa altura a desova das tartarugas marinhas selvagens que enche o filme de uma poesia inesperada. Na pele de Cara, Minka Kelly ancora as várias subtramas, inclusive uma inclemente tempestade tropical que estreita de uma vez por todas os laços entre filha e mãe, morrendo de câncer. Kelly e Andie MacDowell revezam-se na preferência de quem assiste, e numa típica produção Hallmark, assumidamente feminina, o Brett de Chad Michael Murray também acha seu lugar ao sol. Nem preciso dizer que eles, como as tartarugas, vivem felizes para sempre.
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