Vencedor do Oscar, romance épico com Emily Blunt que parece uma poesia visual, está no Prime Video Divulgação / GK Films

Vencedor do Oscar, romance épico com Emily Blunt que parece uma poesia visual, está no Prime Video

Entre as figuras históricas que mais despertam fascínio, a rainha Vitória ocupa um lugar de destaque. Seu longo reinado moldou não apenas a monarquia britânica, mas também a identidade de um império em expansão. No entanto, a percepção popular da soberana é frequentemente reduzida à imagem de uma viúva vestida de preto, associada à austeridade moral de sua época. “A Jovem Rainha Vitória” propõe um resgate dessa narrativa ao explorar os desafios, as paixões e as escolhas que marcaram sua ascensão ao trono. Produzido por Sarah, Duquesa de York, o filme equilibra rigor histórico e um apelo visual exuberante, com Emily Blunt entregando uma performance que ilumina as contradições e forças da jovem monarca.

A trama se estrutura sobre três pilares essenciais: os conflitos familiares e políticos que precedem sua coroação, a relação com o príncipe Albert e a luta para afirmar sua autonomia como soberana. Desde o início, o filme sublinha a opressão que Vitória enfrenta dentro do próprio lar. Sua mãe, a Duquesa de Kent, influenciada pelo ambicioso Sir John Conroy, tenta impor-lhe um regime de tutela que a privaria de controle próprio até a maioridade. A tensão atinge o auge quando Conroy pressiona Vitória a assinar uma ordem de regência, tentativa que ela rejeita com uma firmeza surpreendente para sua idade. Essa decisão revela não apenas sua sagacidade política, mas também uma confiança que desafia a convenção da fragilidade feminina imposta às jovens da nobreza.

Em paralelo, o romance entre Vitória e Albert tem um início pragmático, influenciado pelo rei Leopoldo da Bélgica, mas que gradualmente se transforma em uma parceria de verdadeiro afeto e respeito intelectual. A interpretação de Rupert Friend evita o clichê do príncipe idealizado, apresentando Albert como um homem de convicções firmes e certa vulnerabilidade. A dinâmica entre ele e Vitória foge dos arquétipos comuns ao gênero, explorando a complexidade de um casamento que exigiu equilíbrio entre amor e negociações políticas.

O roteiro de Julian Fellowes conduz esses elementos com habilidade, entrelaçando emoção e estratégia. No entanto, algumas escolhas dramatúrgicas suscitam debate. A caracterização de Lord Melbourne, primeiro-ministro e mentor de Vitória, o apresenta como um político carismático, mas com motivações ambíguas. Por outro lado, Robert Peel, líder conservador, é retratado de forma excessivamente estoica. Essas nuances possivelmente refletem as próprias preferências ideológicas do roteirista, suavizando a rigidez da aristocracia e dramatizando certos confrontos para efeito narrativo. Além disso, há concessões históricas evidentes, como a alteração dos eventos do atentado contra Vitória, em que Albert, no filme, é atingido, algo que não ocorreu na realidade.

A produção é um espetáculo visual. A direção de arte recria a corte britânica do século 19 com meticulosidade, desde os opulentos salões do Palácio de Buckingham até os refinados figurinos, que não apenas compõem a ambientação, mas também funcionam como extensões da própria narrativa. O elenco coadjuvante também se destaca: Miranda Richardson incorpora a tensão emocional da Duquesa de Kent, enquanto Mark Strong adiciona uma camada ameaçadora a Conroy, reforçando sua presença como antagonista.

Se alguns críticos apontam que a abordagem do filme é convencional, é inegável que ele captura algo essencial: a humanização de uma das soberanas mais icônicas da história britânica. “A Jovem Rainha Vitória” não se limita a um relato histórico, mas sim a um estudo de caráter, explorando as incertezas e decisões que moldaram uma jovem governante. Com um olhar perspicaz sobre os desafios do poder, a produção revela que, por trás da rigidez da imagem vitoriana, existiu uma mulher que soube desafiar seu tempo. O sucesso do filme prova que narrativas sobre o passado continuam irresistíveis quando conduzidas com rigor, paixão e um olhar renovado.

Filme: A Jovem Rainha Vitória
Diretor: Jean-Marc Vallée
Ano: 2009
Gênero: Biografia/Drama/História/Romance
Avaliação: 9/10 1 1
★★★★★★★★★