Misturar família e dinheiro não parece um bom negócio. É o que resta cada vez mais claro ao longo dos doze episódios de “Medusa”, uma “Família Soprano” à colombiana — com muito pouco do gênio da série exibida pela HBO entre 1999 e 2007. Aqui, também há um grupo criminoso por trás das transações suspeitíssimas do titânico conglomerado empresarial que, a exemplo da górgona da mitologia grega, espalha serpentes a partir de uma cabeça diabólica, mas fica parecendo que os diretores Said Chamie e Claudia Sánchez estão sempre pisando em ovos quanto a dar às coisas seus verdadeiros nomes, e no fim das contas o assassino é o mordomo. Talvez conscientes da debilidade narrativa de “Medusa”, Chamie e Sánchez cercam-se de cuidados como os enquadramentos e a beleza das locações, escolhidas por Alejandra Losada, mas é tudo tão previsível e tão pouco natural que só mesmo os verdadeiramente aficionados pelo gênero tiram algum proveito dessa viagem.
Depois de anos de bons serviços prestados à Medusa, uma holding que compreende de supermercados a estaleiros, Bárbara Hidalgo foi promovida a executiva-chefe. Bárbara, a heroína vivida com dignidade por Juana Acosta, celebra a conquista num iate, onde acontece uma festinha sexual com os amigos mais chegados. Os diretores Juan Felipe Cano e Maria Gamboa iluminam os preconceitos da audiência, que acaba por sentir-se culpada no momento em que a embarcação vai pelos ares e Bárbara tem um dos indicadores arrancado, a fim de que não restem dúvidas de que a moça passou dessa para a melhor e, portanto, um novo líder deve assumir o império dos Hidalgo. Evidentemente, alguma coisa teria de acontecer para que a série não se esgotasse já no primeiro capítulo, e então Bárbara é resgatada por membros de uma comunidade mística que volta na iminência do desfecho, quando ela já recobrou o posto de mandachuva. Enquanto isso, Danger Carmelo, um abnegado investigador do departamento de polícia de Bogotá, passa por cima da hierarquia e aprofunda-se na tese de que Bárbara foi vítima de um atentado, e o agressor é uma das cobras que a rodeia.
De boas intenções o inferno está cheio, diz a voz cava das ruas, e em assim sendo, o diabo carrega muito do que se vê em “Medusa”. Chamie e Sánchez jamais definem o que é importante contar e perdem o rumo de vez ao apostarem no namoro de Bárbara e Danger (sim, de “perigo”). Tudo fica meloso demais, rosicler demais, e os desdobramentos da apuração do detetive, o sal de tramas dessa natureza, esvaziam-se. Flashbacks excessivos contribuem para a sensação de vertigem que se começa a sentir lá pelo sexto segmento e até as cenas de sexo tornam-se enfarosas. Mas o pior de tudo é ser forçado a reconhecer que o encerramento aberto dá margem a uma segunda temporada. Por onde anda Perseu?
Série: Medusa
Criação: Said Chamie e Claudia Sánchez
Ano: 2025
Gêneros: Drama/Thriller/Suspense
Nota: 7/10